Diante da redução da previsão para o crescimento do PIB em 2025 de 2,5% para 2,3% pelo Ministério da Fazenda, especialistas avaliam que o recuo na projeção reflete uma política fiscal expansionista sem contrapartidas econômicas. Além disso, a medida exige que o Banco Central adote uma política monetária contracionista, mantendo a taxa de juros elevada.
Segundo a pasta, a revisão do percentual está associada a “sinais de desaceleração” da atividade econômica.
Os dados fazem parte do Boletim MacroFiscal, produzido pela Secretaria de Política Econômica da Fazenda.
O economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio de Camargo, afirma que a redução da projeção se deve à perda de fôlego da economia.
“O Ministério da Fazenda reduziu a previsão de crescimento do PIB porque está cada vez mais evidente a desaceleração da economia brasileira. Isso ocorre porque o governo adota uma política fiscal bastante expansionista, com déficit público elevado e que cresce substancialmente a cada ano”, explica.
Já o professor de Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie e pesquisador do Centro Mackenzie de Liberdades Econômicas (MackLiber), Allan Gallo, destaca que a queda da projeção econômica não é apenas um número.
Segundo Gallo, as consequências podem prejudicar não só o setor produtivo, mas também a população brasileira.
“Quando a atividade econômica diminui, além de penalizar o setor produtivo, as pessoas consumidoras e as empresas têm menos espaço para arrecadação, o que prejudica a base tributária, aumenta a pressão sobre o déficit, que cresce, e, consequentemente, mantém a taxa de juros alta por mais tempo. É um ciclo vicioso: o governo gasta mal, o déficit aumenta, o Banco Central responde com juros elevados e o PIB cresce menos”, aponta.
Irresponsabilidade fiscal
Para Gallo, o governo Lula mantém uma política de gastos elevados que limita o crescimento a longo prazo: “Quando a política fiscal é expansionista e desordenada, como no atual governo, a política monetária precisa ser mais contracionista. Quem conhece macroeconomia sabe que, nesse cenário de juros altos e gastos excessivos, o resultado é um crescimento menor. Não há como sustentar crescimento a longo prazo”, afirma Gallo.
Segundo ele, a falta de responsabilidade econômica na gestão se reflete em custos para o consumo.
“Este é um típico caso em que a irresponsabilidade fiscal se traduz diretamente em custo social, mas não adianta dizer que ‘PIB não se come’ – como algumas pessoas maldosamente dizem – porque a produtividade cai e o padrão de vida diminui. Isso afeta não só o alto empresariado, mas principalmente quem está na base da pirâmide e tem seu consumo comprometido”, pondera Gallo.
José Márcio de Camargo destaca que o ponto crucial desse processo é o excesso de gastos. “No caso do Brasil, não só a quantidade de gastos é muito alta, como a qualidade desses gastos é ruim, ou seja, há muitos gastos e ainda assim com baixa eficiência”, ressalta Camargo.
Impactos sociais
Gallo afirma que o governo falha ao “gastar muito e gastar mal, sem ajustar as despesas obrigatórias”. Para ele, isso gera um ambiente de estagnação econômica.
“Não é surpresa que o PIB tenha sido revisado para baixo, o cenário atual é de estagnação induzida pela própria política econômica do governo”, avalia Gallo.
Ele ainda aponta que a tarifa elevada imposta pelo presidente dos EUA, Donald Trump, ao Brasil, não explica sozinha a desaceleração do PIB. “Aqui, o maior impacto vem internamente, com o governo insistindo em políticas de gastos sem contrapartidas, minando a credibilidade do arcabouço fiscal.”
Já Camargo destaca que, com o Banco Central mantendo a Selic elevada, os impactos para a sociedade aumentam.
“Isso significa que o custo dessa política fiscal extremamente expansionista é uma política monetária contracionista, muito onerosa para a sociedade brasileira, no esforço para manter a inflação dentro da meta”, destaca Camargo.
Motivos da desaceleração da atividade econômica
De acordo com o Boletim MacroFiscal, a atividade econômica tem mostrado sinais de desaceleração no país. “O PIB do segundo trimestre mostrou moderação no crescimento das atividades cíclicas e uma contribuição negativa da absorção doméstica para o crescimento. A expansão do crédito tem se reducido, numa conjuntura de altas taxas de juros bancários e elevação da inadimplência. Embora a taxa de desemprego esteja em seu menor nível histórico, percebe-se uma tendência de desaceleração na expansão da massa real de rendimentos”, destaca o documento.
O Boletim aponta que esse desaceleramento da atividade econômica está relacionado à política monetária restritiva. Segundo o relatório, essa política tem causado a desaceleração do crédito – considerando a taxa básica de juros em 15% ao ano.
Entre as causas da redução da atividade, o relatório também indica que o mercado de trabalho demonstra sinais de desaquecimento. “Apesar da taxa de desemprego estar em 5,8%, no menor patamar histórico, o ritmo de expansão da população ocupada e da força de trabalho tem desacelerado na comparação anual”, aponta o boletim.
A expectativa para o próximo trimestre é que a desaceleração da atividade econômica continue, conforme o Ministério da Fazenda.
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