O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve crescer 1,8% em 2026. Essa é a previsão do relatório Economia Brasileira 2025-2026, divulgado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) nesta quarta-feira (10). O documento traz as principais projeções para a atividade econômica, emprego, inflação, juros e comércio exterior do país para este e o próximo ano.
O crescimento esperado para o PIB em 2026 será puxado principalmente pelo setor de serviços, com aumento previsto de 1,9%. A indústria deve desacelerar em relação a 2025, com crescimento de 1,1%, enquanto a agropecuária deve permanecer praticamente estável (+0,0%).
O diretor de Economia da CNI, Mario Sergio Telles, ressalta que o ritmo de crescimento será o mais fraco desde 2020, ano marcado pela pandemia. “Em 2024, o crescimento foi de 3,4%. Ou seja, agora é metade do crescimento de 2024”, destaca.
Juros altos freiam a economia
De acordo com Telles, a desaceleração em 2026 será consequência direta da manutenção dos juros elevados. “A oferta de crédito para consumo — que em 2024 foi superior a 10%, neste ano deve ficar em torno de 3,6% e no próximo será cerca de 3% — está cada vez menor. Portanto, esse é um fator que reduz o crescimento da economia, pois o consumo cresce menos”, explica.
No entanto, a queda do PIB não será mais acentuada devido a três motivos:
- expansão fiscal, principalmente do governo federal;
- isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil e descontos para rendas de até R$ 7.350, estimulando o consumo;
- crescimento (ainda que modesto) do mercado de trabalho.
Durante o lançamento do relatório, na sede da CNI, em Brasília, o presidente da entidade, Ricardo Alban, defendeu a eficácia da redução da taxa de juros e a mitigação dos efeitos da política monetária.
“Entendo que os juros podem ser administrados de forma mais eficiente, com resultados mais imediatos do que as reformas estruturais que precisamos realizar. Considero que a política monetária deve incorporar outras ferramentas para alcançar o mesmo objetivo, que é minimizar o impacto da política expansionista.”
Selic em 12% em 2026
A CNI projeta que a taxa Selic termine 2026 em 12%. Mesmo com essa redução prevista, o efeito tardará a chegar na economia real. “Entre o início da redução no Banco Central e seu impacto na economia, há uma defasagem. Então, 2026 ainda será marcado por um efeito bastante negativo da política monetária”, explica Mario Sergio Telles.
Para Ricardo Alban, manter os juros em patamar elevado prolongará a desaceleração econômica, especialmente afetando a indústria. “O impacto recai sobre a população, pois reflete-se em menos empregos e renda. É necessário que o Banco Central não só inicie o ciclo de cortes na Selic o quanto antes, mas que, ao final de 2026, tenhamos juros reais menores que as projeções atuais indicam”, avalia.
Segundo o relatório, a inflação deve fechar 2026 em 4,1% e os juros reais ficarão em torno de 7,9%, ainda elevados e capazes de inibir o crescimento econômico e os investimentos.
Construção tem destaque positivo
Mesmo sob pressão dos juros altos, o setor da construção deve apresentar bom desempenho em 2026. A CNI estima um crescimento de 2,5%, impulsionado pelo novo modelo de crédito imobiliário, pelo aumento do valor máximo dos imóveis financiados pelo Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e por novas linhas de financiamento para reformas de moradias de baixa renda.
A indústria extrativa deve crescer 1,6%, beneficiada pela forte extração de petróleo e minério de ferro. Já a indústria de transformação apresentará o pior desempenho entre os segmentos industriais, com expansão de apenas 0,5%, pressionada pelo crédito caro e pela redução da demanda interna.
“Esses dois setores — indústria de transformação e construção — estão sendo afetados pela taxa de juros muito alta, o que diminui a demanda interna por bens de consumo industriais e também encarece a compra de imóveis, desestimulando um setor muito dependente de crédito”, explica Telles.
Além disso, a indústria de transformação sofre também com o crescimento de 15,3% das importações em 2025. “As importações estão dominando o tímido aumento da demanda interna por bens industriais no Brasil”, aponta Telles.
Comércio exterior: superávit maior em 2026
A CNI projeta que as exportações atinjam US$ 355,5 bilhões em 2026, aumento de 1,6% em relação a 2025. Contudo, o crescimento deve ser limitado por fatores como tarifas impostas pelos Estados Unidos, possível desaceleração da economia argentina — parceiro comercial importante do Brasil —, safra de grãos mais modesta e menor demanda por petróleo.
Quanto às importações, espera-se redução na demanda por insumos importados e aumento nas compras de bens de consumo. Com isso, as importações devem totalizar US$ 289,3 bilhões, 1,4% abaixo do volume de 2025.
O resultado projetado é um superávit comercial estimado em US$ 66,2 bilhões, alta de quase 17% comparado a 2025.
Mercado de trabalho perde ritmo em 2026
Assim como nos últimos meses de 2025, o mercado de trabalho deve desacelerar em 2026, com taxa de desocupação estimada em 5,6% e aumento de 3,4% na massa real de rendimentos dos trabalhadores.
Segundo o relatório, a manutenção de condições monetárias restritivas, aliada à estabilidade dos principais indicadores de emprego e à desaceleração na criação de vagas formais no fim de 2025, indica que o dinamismo do mercado de trabalho continuará limitado, especialmente durante o primeiro semestre de 2026.
Projeções para 2025
Para 2025, a CNI projeta crescimento de 2,5% do PIB, um pouco acima dos 2,4% estimados no fim do ano anterior. Diferente de 2024, quando a expansão foi puxada pela indústria e serviços, o crescimento deste ano será liderado pelo agronegócio.
Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) — considerado a inflação oficial do país — deve encerrar 2025 em 4,5%, no limite do teto da meta. Mesmo assim, a CNI avalia que o Banco Central deve manter a Selic em 15% na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do ano, começando o ciclo de cortes apenas em 2026.
O estudo completo está disponível no link.
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