Um acordo com os Estados Unidos pode impulsionar US$ 7,8 bilhões em exportações, aponta levantamento divulgado esta semana pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
A análise da entidade considera um acordo envolvendo os 1.908 produtos listados na Ordem Executiva de 5 de setembro, incluindo tarifas recíprocas e setoriais.
Em nota do Palácio do Planalto, informa-se que, na segunda-feira (6), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu uma ligação de Donald Trump. Lula destacou que o Brasil é um dos três países do G20 com saldo positivo na balança comercial e de serviços com os Estados Unidos.
Diante disso, o presidente brasileiro solicitou a retirada da sobretaxa de 40% sobre produtos nacionais e a revogação das medidas restritivas aplicadas a autoridades brasileiras. Trump, por sua vez, designou o secretário de Estado Marco Rubio para prosseguir com as negociações junto ao vice-presidente Geraldo Alckmin, ao chanceler Mauro Vieira e ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
A gerente de Comércio e Integração Internacional da CNI, Constanza Negri, enxerga esse diálogo como um sinal positivo, reforçando o respeito mútuo entre os dois países.
“Entendemos que não há argumentos econômicos lógicos para que as exportações brasileiras sejam taxadas. Hoje, nossa relação de mais de 200 anos com os Estados Unidos é marcada por forte interdependência positiva em insumos produtivos, que circulam entre Brasil e EUA, alimentando nossa relação, não apenas comercial, mas também de investimento”, avalia.
Reforma trabalhista economizou R$ 15 bilhões ao país entre 2022 e 2024, aponta estudo
Setor produtivo vê “efeitos devastadores” em PEC que reduz jornada semanal
Em entrevista à rádio CBN na terça-feira (7), Abrão Neto, CEO da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil), afirmou que essa conversa entre Lula e Trump representa um passo importante, criando condições para um entendimento entre as nações.
“Até pouco tempo, o diálogo entre os governos era inexistente. Agora, no mais alto nível, com os dois presidentes enviando mensagens positivas, inicia-se um processo que esperamos levar a um acordo para reequilibrar o comércio e permitir o crescimento do comércio e investimentos entre as duas maiores economias das Américas”, declarou Abrão Neto à rádio.
O CEO da Amcham Brasil destacou ainda que essa mudança de cenário foi influenciada por diversos fatores, especialmente a mobilização do setor empresarial.
Ordem Executiva
A lista de produtos incluídos no anexo Potential Tariff Adjustments for Aligned Partners (PTAAP), anunciada pela Ordem Executiva nº 14.346, de 5 de setembro, possibilita isenções tarifárias que podem alcançar US$ 7,8 bilhões em exportações brasileiras.
A Ordem Executiva estabelece a estrutura para futuros acordos recíprocos e prevê isenções tarifárias para 1.908 produtos, desde que cumpram compromissos relacionados a comércio e segurança.
Segundo a CNI, o anexo corresponde a 18,4% do total exportado pelo Brasil aos Estados Unidos em 2024, somando-se aos 26,2% já isentos de tarifas extras.
Produtos contemplados pela Ordem Executiva
Entre os produtos incluídos destacam-se itens agrícolas não produzidos em quantidade suficiente nos EUA; recursos naturais indisponíveis internamente; medicamentos genéricos; insumos farmacêuticos; além de aeronaves e peças.
É importante notar que a Ordem Executiva estipula algumas condições específicas. Em certos casos, a isenção se aplica apenas a produtos detalhados na lista; em outros, limita-se a artigos e componentes de aviação civil.
O presidente da CNI, Ricardo Alban, acredita que há espaço para negociação. “Não se trata de um ganho adicional para o Brasil, mas da recuperação de espaço comercial. Integrar o anexo significa devolver previsibilidade e competitividade às nossas exportações, corrigindo distorções que impactam a indústria e o emprego no país”, ressalta.
A CNI também informa que, entre os 1.908 produtos, o Brasil exportou 526 para os Estados Unidos, correspondendo a 819 produtos detalhados em código norte-americano de dez dígitos. Entre os principais itens estão café, cacau, frutas tropicais e produtos metálicos.
Missão em Washington
Nos dias 3 e 4 de setembro, a CNI coordenou uma missão empresarial a Washington (EUA), buscando abrir canais de diálogo e apoiar as negociações para reduzir ou eliminar as tarifas impostas pelos EUA aos produtos brasileiros. A delegação reuniu cerca de 130 empresários, dirigentes de federações estaduais e representantes de associações industriais.
A agenda incluía reuniões no Capitólio, encontros bilaterais com instituições parceiras, plenária com representantes dos setores público e privado dos dois países, e audiência pública na US International Trade Commission, no âmbito de investigação americana contra o Brasil baseada na Seção 301 da Lei de Comércio de 1974. O processo avalia práticas comerciais em áreas como comércio digital, serviços de pagamento, tarifas preferenciais, etanol e questões ambientais.