Se o atual estoque for mantido por muito tempo, a empresa corre o risco de ficar com preço “fora da média do mercado”
Redes de varejo e atacarejo já montaram as suas estratégias frente ao cenário de risco de crise na cadeia do frago com a gripe aviária. Empresas ouvidas nesta terça-feira (20/5) afirmam que a ordem é baixar os estoques, porque já aguardam uma queda no preço, e valerá a pena fechar novos lotes a condições comerciais melhores.
Se o atual estoque for mantido por muito tempo nas varejistas, e as redes virarem o mês de maio para junho com produtos mais antigos, e mais caros, a empresa corre o risco de ficar com preço “fora da média do mercado”, disse uma pessoa a par do tema.
“A lógica é que, como param as exportações, o frango fica no mercado interno, porque aqui é muito difícil de ser barrado. E o preço, então, tende a cair. Porque é muito produto que virá para mercado local. O Brasil responde por 40% das exportações mundiais de carne de frango”, disse o diretor geral de uma grande cadeia de atacarejo do país.
“E isso vale para todas as proteínas, incluindo frango, embutidos e até carne vermelha, porque o frango caindo causa um efeito em toda a cadeia de proteínas”, disse ele.
Segundo informações trocadas entre fornecedores de frango em São Paulo, e compradores nesta semana, e que o Valor teve acesso, o preço ainda não havia reduzido nos últimos dias por que há falta do produto em determinados mercados no mundo. Mas as proteínas em geral estavam caindo de preço, por causa de movimentos do mercado de proteínas em si, que sentiu um recuo nas vendas ao consumidor.
Uma segunda fonte desse setor disse hoje que não acredita num cenário oposto, de um aumento de granjas afetadas pela gripe aviária no sul do país — o que poderia levar a um movimento de fechamento temporário das granjas e um aumento de preços.
Na avaliação do consultor Manoel Araújo, sócio diretor da Martinez de Araújo, e membro de conselho de administração de varejistas, há uma possibilidade de as redes se estocarem mais com o produto, caso o abate fique mais controlado e caia a oferta.
“No momento, é natural considerar que o Brasil é o maior exportador mundial do produto, e com as barreiras, sobra produto aqui, mas se começarem a fechar muitas granjas, será preciso ver esse impacto na oferta”, disse ele.
Em coletiva de imprensa na segunda-feira (19/5), o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse querer acreditar que o preço da carne da ave não deve cair no mercado interno, apesar da suspensão na exportação a cerca de 20 destinos do produto no mundo.
“[Pela] experiência adquirida, os preços não baixaram tanto”, afirmou o ministro. “Não vai ficar tão grande a restrição. É possível que [a venda] depois dos 28 dias [até o fim do foco] volte gradativamente à normalidade.”
Segundo o ministro, cerca de 70% da produção já fica no mercado interno, e os 30% restantes, destinados para mercado externo, se fossem barrados, não haveria um impacto tão grande. Fávaro afirmou acreditar em algumas ofertas de preços, de 10, 15 dias, mas espera mais uma estabilidade de preços.
Por Adriana Mattos