O Brasil possui um enorme potencial para se tornar um protagonista global na produção de terras raras, entretanto, é necessário criar um ambiente de negócios favorável, com políticas industriais que incentivem o desenvolvimento da cadeia produtiva completa, desde a mineração até o produto final. Esse foi um dos temas centrais da última reunião do Conselho de Mineração da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
“Este é o momento ideal para transformar o potencial geológico do Brasil em políticas concretas que viabilizem não só a exportação de minério, mas também o desenvolvimento de uma indústria avançada, ampliando a participação brasileira na economia verde”, declarou Sandro Mabel, presidente do colegiado.
O termo terras raras refere-se a um conjunto de 17 elementos químicos que, embora sejam abundantes na natureza, aparecem em baixas concentrações e são difíceis de extrair e separar. No Brasil, esses elementos ganharam relevância nas negociações comerciais entre o governo brasileiro e os Estados Unidos.
Esses minerais são indispensáveis para o desenvolvimento de tecnologias avançadas e fontes de energia limpa, como turbinas eólicas, motores de veículos elétricos e aparelhos eletrônicos. Com os avanços tecnológicos e a necessidade de uma transição energética para combater a crise climática, espera-se um crescimento acelerado no mercado de terras raras.
Potencial ainda não explorado
Atualmente, a China domina o mercado mundial, respondendo por aproximadamente 60% da produção mineral de terras raras. Com a segunda maior reserva global – cerca de 21 milhões de toneladas, equivalentes a 23% das reservas mundiais – o Brasil possui grandes chances de competir com o gigante asiático. Contudo, é fundamental converter esse potencial geológico em capacidade industrial, investindo em separação, processamento e transformação, promovendo valor agregado, empregos e inovação.
“A indústria de terras raras traz consigo algo que o Brasil carece fortemente e precisa desenvolver com urgência: ciência, tecnologia e inovação. O mercado de terras raras é recente e surgiu a partir de intenso desenvolvimento científico, aplicação da ciência para criar tecnologia, inovar e gerar produtos”, destacou Luiz Antônio Vessani, membro do Conselho de Mineração da CNI.
Nilson Francisquini Botelho, professor do Instituto de Geociências da Universidade de Brasília (UnB), ressalta que desenvolver a cadeia produtiva poderia tirar o Brasil da condição de exportador de matéria-prima. “Os ganhos seriam maiores com investimentos na transformação desses metais em produtos tecnológicos. Atualmente, o que ocorre é a exportação de matéria-prima bruta para a China, o que agrega pouco valor à indústria”, acrescentou o professor.
Atualmente, o Brasil é responsável por apenas 0,02% da produção mundial, com 80 toneladas das 350 mil produzidas globalmente. Projeções da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) indicam que a demanda interna por terras raras deve crescer seis vezes entre 2024 e 2034, passando de cerca de 1 mil para mais de 6 mil toneladas.
Luiz Antônio Vessani, também presidente da Edem, empresa dedicada ao desenvolvimento na mineração, defende que não sejam criadas taxas exclusivas para a mineração de terras raras. “É necessário estimular a mineração. Ela deve gerar produtos que permitam às indústrias criar valor, alcançando, quem sabe, tecnologias como veículos elétricos, aerogeradores e muitos outros insumos derivados da agregação de valor.”
Para o Conselho, o avanço do setor depende ainda de medidas que diminuam a burocracia e acelerem o licenciamento ambiental, um dos principais obstáculos da área. Outro desafio é a insegurança jurídica, que eleva custos e afasta potenciais investidores estratégicos.
De acordo com a CNI, assegurar previsibilidade regulatória é fundamental para atrair investimentos de longo prazo e consolidar a mineração de terras raras como um vetor de desenvolvimento econômico.
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