Nesta semana, Roraima alcançou um marco importante na cardiologia com o primeiro implante de marcapasso fisiológico no Estado. Este procedimento, considerado inovador e de alta complexidade, foi realizado no Centro de Diagnóstico Especializado do HGR (Hospital Geral de Roraima Rubens de Souza Bento).
Ao contrário dos modelos tradicionais, o marcapasso fisiológico ativa o próprio sistema de condução elétrica do coração, possibilitando uma contração mais natural e sincronizada dos ventrículos, que são responsáveis por bombear o sangue pelo corpo.
“Esse procedimento visa estimular o coração através das vias naturais, utilizando o sistema de condução. Ele diminui riscos, como a insuficiência cardíaca, e representa um avanço que deverá, com o tempo, substituir os marcapassos convencionais”, esclareceu o cardiologista do HGR, Bruno Wanderley.
O especialista Luiz Gustavo Bravosi, eletrofisiologista cardíaco com formação pela Universidade McGill, no Canadá, veio do Rio Grande do Sul a convite do Dr. Bruno para realizar os primeiros implantes e capacitar a equipe local, permitindo que os próximos procedimentos sejam efetuados por profissionais da própria unidade.
“Estamos fazendo, pela primeira vez em Roraima, um tipo especial de marcapasso, capaz de estimular o coração de forma natural, sem causar danos a longo prazo. Isso melhora a qualidade de vida dos pacientes, reduz o uso de medicamentos e evita hospitalizações futuras. Nosso intuito é implantar essa técnica aqui com um alto padrão de qualidade”, ressaltou Bravosi.
O primeiro implante aconteceu no dia 28 de maio, e o segundo foi realizado nesta quinta-feira, 29. O procedimento é indicado para pacientes com bloqueio atrioventricular, insuficiência cardíaca e outras disfunções do ritmo cardíaco.
“É uma grande oportunidade aprender uma nova técnica de estimulação cardíaca que beneficiará muitos pacientes cardiopatas no Brasil e, principalmente, em Roraima. É um procedimento inédito no estado, realizado apenas em poucas regiões do Brasil e do mundo. Com essa técnica, muitos pacientes poderão ter uma estimulação cardíaca mais fisiológica e com menor estresse”, afirmou o cardiologista e arritmologista Dr. Kim Chan.
O aposentado Francisco de Assis, de 82 anos, descobriu que precisaria de um marcapasso há cerca de dois meses, após realizar exames em Mucajaí. Transferido para o HGR, teve a confirmação para a realização do procedimento.
“Estou confiando em Deus e nos médicos que vou melhorar. Já conversei com umas quatro pessoas que colocaram o marcapasso e estão vivendo suas vidas”, disse.
SOBRE O PROCEDIMENTO
O marcapasso é um pequeno dispositivo eletrônico que auxilia no controle do ritmo dos batimentos cardíacos. É indicado quando o coração bate de forma excessivamente lenta ou irregular, como em casos de bradicardia ou bloqueios no sistema de condução elétrica. Sua função é enviar impulsos elétricos que garantem um ritmo cardíaco adequado, permitindo que o sangue circule eficientemente por todo o corpo.
Antes do implante, o paciente passa por uma série de exames para avaliar a necessidade do dispositivo. Um dos métodos usados é a introdução de um cateter — um tubo fino e flexível — via uma veia até o interior do coração. Esse cateter permite mapear a atividade elétrica do órgão e identificar falhas na condução dos impulsos. Com base nesse diagnóstico, define-se a necessidade do marcapasso e a técnica mais adequada.
Para a estimulação fisiológica, o cateter também auxilia na fixação dos eletrodos em locais específicos do sistema de condução natural do coração. Isso garante uma estimulação mais próxima do batimento cardíaco natural, com benefícios comprovados na qualidade de vida, preservação da função cardíaca e redução de complicações a longo prazo.
A introdução dessa técnica em Roraima representa não apenas uma inovação, mas também um passo significativo na oferta de tratamentos modernos e eficazes para pacientes cardiopatas da rede pública.
