PIB avança 0,4% no segundo trimestre, mas indica forte desaceleração econômica

ebab39a86dc8d1c7ccaa8854c9928bd9b98bbfd88a0536920aeaaaa5d0479209

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 0,4% no segundo trimestre de 2025 em comparação ao trimestre anterior, alcançando R$ 3,2 trilhões em valores correntes. O dado, divulgado nesta terça-feira (2) pelo IBGE, ficou ligeiramente acima da previsão de 0,3% projetada pelo mercado, mas reforça o cenário de desaceleração econômica para os próximos meses.

Do ponto de vista da oferta, os setores de Serviços (0,6%) e Indústria (0,5%) compensaram a queda da Agropecuária (-0,1%). No lado da demanda, o Consumo das Famílias cresceu 0,5%, enquanto o Consumo do Governo recuou 0,6% e os Investimentos diminuíram 2,2%. Os serviços e o consumo das famílias atingiram níveis recordes na série histórica, mas a retração nos investimentos chama a atenção dos analistas.

Exportações sustentam resultado, mas indústria apresenta dificuldades

De acordo com o economista César Bergo, professor da UnB, o crescimento foi impulsionado por exportações atípicas, devido à antecipação de embarques provocada pelo “tarifaço” anunciado pelo governo dos EUA. “O que surpreendeu nesse período foram as exportações, possivelmente pela questão do tarifaço americano, em que muitos exportadores adiantaram o envio de mercadorias para evitar a pressão das tarifas. Porém, no terceiro e quarto trimestres, sentiremos uma pressão maior nas exportações”, analisa.

Ele ressalta que o agronegócio, após um primeiro trimestre forte, registrou queda, enquanto a indústria continua penalizada pela política monetária restritiva. O destaque positivo veio das indústrias extrativas, que cresceram 5,4%. “O setor industrial tem enfrentado muitas dificuldades, especialmente a indústria de transformação e a da construção, que são mais impactadas pela necessidade de crédito”, explica Bergo.

Mesmo assim, o economista destaca que o consumo das famílias tem sido mantido por programas sociais e pelo mercado de trabalho aquecido. “Embora esses números evidenciem uma fraqueza da economia, o consumo foi sustentado pelos benefícios governamentais e pela taxa de desemprego em níveis historicamente baixos”, afirmou.

“O ponto mais crítico é a falta de investimentos — tanto do governo quanto da iniciativa privada — principalmente nos bens de capital, que são mais duradouros. Isso realmente está acontecendo. De modo geral, este PIB indica que a economia está desacelerando e, nos próximos dois trimestres, isso deve ficar ainda mais evidente.”

Juros altos são o principal obstáculo

Para Allan Gallo, professor de Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie, a desaceleração tem causas internas e não se explica apenas por fatores externos, como as sanções comerciais dos EUA. Ele relata que os altos juros são o maior entrave para o crescimento.

“O verdadeiro freio para o desenvolvimento econômico e crescimento do país, atualmente, são os juros reais, que estão em 10%, com a Selic em 15% — níveis históricos desde o Plano Real. Na minha opinião, isso é reflexo de um Estado com um governo que gasta muito, de forma ineficiente, mantém déficits, chama isso de justiça social e acaba aumentando cada vez mais a dívida.”

Segundo Gallo, a combinação de juros altos, baixos investimentos produtivos e desconfiança do setor privado em relação à política fiscal projeta um crescimento ‘anêmico’ para o restante de 2025 e 2026. “Se nada mudar, o PIB deste ano deve ficar próximo de 2% ou até menos, e no próximo ano ainda mais fraco. O país permanece preso em um ciclo de mediocridade que não termina, porque os governos evitam enfrentar a questão fiscal e preferem estimular o consumo por meio de transferência de renda”, avalia.

Perspectivas para 2025 e 2026

O IBGE ressaltou que o PIB atingiu o maior nível da série histórica iniciada em 1996. Contudo, as projeções indicam crescimento mais modesto. O governo projeta 2,5%, o Banco Central fala em 2,1% e o mercado espera algo em torno de 2,2%.

Apesar do recorde, o consenso dos especialistas é que a economia brasileira enfrenta um ritmo cada vez mais lento, sustentado por pilares frágeis: consumo incentivado artificialmente, baixa competitividade industrial e queda nos investimentos.

]]>

Plugin WordPress Cookie by Real Cookie Banner
scroll to top