Pesquisa aponta contaminação por plástico em Abrolhos (BA), importante área de proteção marinha no Brasil

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No litoral sul da Bahia, a cerca de 70 km de Caravelas, encontra-se o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos (PNMA). Criado em abril de 1983, foi o primeiro parque marinho do Brasil e tornou-se um marco na preservação dos ecossistemas costeiros. Com aproximadamente 88 mil hectares, o local abriga a maior biodiversidade marinha do Atlântico Sul.

Apesar do controle da visitação pública e da gestão feita pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o parque não escapou da poluição por plástico. Um levantamento recente identificou microplásticos em bivalves filtradores, como ostras e mexilhões, com fibras e fragmentos menores que um milímetro, de variadas cores e composições poliméricas.

O estudo, conduzido pelo professor Ítalo Braga, do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (IMar-Unifesp), avaliou dez Unidades de Conservação (UCs) de proteção integral, áreas remotas e de acesso restrito, e constatou que todas apresentaram contaminação por materiais sintéticos.

Segundo Braga, os microplásticos chegam a esses locais através do movimento das correntes marítimas, marés e ventos, alcançando até regiões extremas. “Não é coincidência que hoje eles sejam encontrados do topo do Everest ao fundo da Fossa das Marianas, a região mais profunda do oceano”, afirma.

Em Abrolhos, destaca-se a presença significativa de polímeros alquídicos, usados em tintas e vernizes de embarcações. “Isso indica que parte da contaminação pode estar relacionada à visitação por barcos, embora não possamos afirmar a origem com certeza. Também foram identificados PET, teflon e outros polímeros”, explica o pesquisador.

Impactos

A chefe do Núcleo de Gestão Integrada do ICMBio em Abrolhos, Josângela da Silva Jesus, relata que o monitoramento de resíduos sólidos no PNMA evidencia o impacto da poluição global. “Chega lixo de todo o mundo, com rótulos da Ásia, da África e de diversos outros lugares. Isso mostra o quanto tudo está conectado e que Abrolhos não está isolado”, destaca.

Para Silva Jesus, o desafio não pode ser resolvido apenas localmente. “É difícil controlar a chegada de lixo e microplásticos. Mesmo fazendo a limpeza e o manejo dos resíduos, não conseguimos combater isso sozinhos.”

A gestora comenta que os efeitos da poluição por plástico já são visíveis em aves marinhas. “As fragatas utilizam lixo marinho para construir seus ninhos. Estamos iniciando uma parceria com pesquisadores para investigar melhor esse comportamento e entender os impactos.”

Conforme o relatório Fragmentos da Destruição, da organização Oceana, quase metade das espécies analisadas pelo Projeto de Monitoramento de Praias (PMP) — 49 de 99 aves, répteis e mamíferos — tinham plástico no estômago. Entre os indivíduos estudados, as aves apresentaram uma das maiores incidências, com 77,9%.

Medidas para conter a poluição

Para Ítalo Braga, criar áreas marinhas protegidas (AMPs) é uma ação importante, mas insuficiente para barrar a poluição por plástico. Como ressaltado pela chefe de Abrolhos, a gestão ambiental e a fiscalização também não conseguem, sozinhas, controlar esse tipo de contaminação.

Segundo o pesquisador, a simples criação de áreas protegidas não consegue conter a poluição por microplásticos. “Ao criar uma área marinha protegida, estabelece-se apenas um arcabouço regulatório, sem barreiras físicas para reduzir a emissão”, explica.

Braga defende que os planos de manejo das áreas marinhas, principalmente das unidades de proteção integral no Brasil, devem incluir mecanismos para prevenir ou minimizar a contaminação. Isso engloba um controle mais rígido da visitação e a revisão dos materiais e embarcações permitidos nessas áreas.

Além disso, o professor acredita que o desafio requer ações articuladas em níveis global e nacional, como o Tratado Global Contra a Poluição por Plástico e o Projeto de Lei (PL) 2524/2022, que propõe a transição da economia linear do plástico para uma economia circular.

“Sou um grande apoiador do PL 2524. Ele prevê redução na produção e consumo de plásticos e a substituição por itens mais sustentáveis. Isso significa um volume menor de materiais sendo descartados no meio ambiente. As medidas propostas ajudam a diminuir a contaminação por micro, meso e macroplásticos”, conclui.

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