Cotados como possíveis candidatos a presidente, Ronaldo Caiado e Romeu Zema buscaram marcar posição. Do lado do governo, Geraldo Alckmin defendeu diálogo com EUA
Políticos cotados como possíveis candidatos da direita nas próximas eleições presidenciais voltaram a criticar o governo federal e ações de movimentos como o dos Sem Terra (MST) em um dos principais eventos do agronegócio brasileiro. Desta vez, foi na cerimônia de abertura a Agrishow, uma das maiores feiras de tecnologia para a agropecuária do país, neste domingo, em Ribeirão Preto (SP). Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás; e Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, aproveitaram mais um espaço para buscarem marcar posição e fazer acenos ao agro.
Zema, em seu discurso, disse que sua família tem raízes em Ribeirão Preto e que é “um mineiro bem ambientado em solo paulista”. Concentrou seu pronunciamento em ressaltar ações de sua gestão no Estado de Minas Gerais. E que, em 2024, pela primeira vez, as exportações do agronegócio mineiro superaram outros setores, como a mineração.
“E não foi só por causa do preço do café, que já estava subindo”, disse o governador, defendendo a atuação de seu governo na promoção da segurança em áreas rurais, na “valorização de produtos genuinamente mineiros” e no trabalho conjunto com entidades representativas do agronegócio local.
“É um Estado bem estruturado, e o agro, que tem sido essa locomotiva em Minas Gerais, tem ajudado o Estado a crescer. Lá, não ajudamos quem invade terra. Ajudamos quem trabalha”, disse Zema, reforçando sua posição contra a ação de movimentos cobrando o avanço da reforma agrária no país.
Caiado, por sua vez, também não deixou de mencionar ao assunto, ao defender a atuação do seu governo na segurança. “Em Goiás, bandido não se cria. Não tem abril vermelho. Todo o ano é verde-e-amarelo”, disse ele, em referência ao movimento liderado pelo MST neste mês.
O governador de Goiás ressaltou que agronegócio brasileiro tem desafios a enfrentar no futuro, mas o país cria dificuldades, ao não investir em uma política de seguro rural, em pesquisa e inovação e na formação de talentos em segmentos como a tecnologia da informação e a inteligência artificial. E aproveitou o momento para criticar políticas sociais quem segundo ele, mantêm os jovens “tutelados”.
“O Brasil não aceita mais um país onde nossa juventude seja tutelada por programas sociais. O agro é o único setor em que o Brasil é competitivo mundialmente e não podemos perder isso. É em que um governo tem que focar, não em uma política populista”, disse Caiado.
Ele pregou união da direita para as eleições de 2026. E citou como líderes dessa articulação, além de si mesmo, e de Romeu Zema, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos); e do Paraná, Carlos Massa Ratinho Junior (PP).
Mencionando especificamente a política agrícola, o governador goiano disse que não adianta o Plano Safra – principal política de crédito para a agropecuária brasileira – apenas garantir taxas de juros menores. O cenário atual torna os investimentos produtivos menos rentáveis que uma aplicação financeira.
Caiado e Zema já tinha adotado postura semelhante no sábado, em Uberaba (MG), na abertura da Expozebu, principal exposição do Brasil voltada ao setor pecuário. Eles também não pouparam de críticas o governo federal e movimentos como o MST, em uma cerimônia com palanque amplamente dominado por políticos de oposição.
Em Ribeirão Preto (SP), no entanto, o governo federal também esteve representado nos discursos de abertura da Agrishow, por Geraldo Alckmin, vice-presidente da República e Ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Ex-governador de São Paulo, Alckmin, evitou entrar no embate direto com Caiado e Zema, procurando, de seu lado, defender a atuação do governo federal em relação ao agro e a indústria.
“Quando o agro vai bem, ajuda a indústria. Quando a indústria vai bem, ajuda o agro”, disse, acrescentando que a política industrial anunciada pelo governo federal em 2024 – chamada de Nova Indústria Brasil – tem o agro como um dos setores prioritários, além do segmento de máquinas e equipamentos e biocombustíveis.
Sobre a demanda por crédito rural, o vice-presidente disse apenas que o governo federal tem consciência da preocupação do setor com o Plano Safra para o ciclo 2025/26 e prometeu empenho. “Vou levar um pleito condizente com o tamanho recorde que vai ser a safra brasileira.”
Alckmin dedicou boa parte de seu pronunciamento ao cenário internacional. Em meio ao cenário de guerra comercial, disse que o Brasil “não é um problema” para os Estados Unidos, já que o comércio bilateral é superavitário para o lado americano.
“E tem mais: dos dez produtos que eles mais exportam para nós, em oito eles não pagam imposto. O caminho é o diálogo. No olho no olho, o máximo que pode acontecer é todo mundo ficar cego. É diálogo e conquistar mercados”, disse Alckmin, para quem a política tarifária adotada pelo presidente americano Donald Trump pode acelerar a finalização do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia.
Ao final do discurso, Alckmin acabou cometendo um ato falho, depois de um problema técnico em seu áudio. Disse que “aparelho de som é igual gerente de banco. Quando a gente mais precisa, ele falha”. Depois emendou: “O Banco do Brasil é exceção. E o BNDES, que criou o programa do dólar, para ter crédito mais acessível.”
grishow completa 30 anos
A edição deste ano é a de número 30 da Agrishow. A feira de tecnologia para a agropecuária abre as portas para o público nesta segunda-feira (28/4). Ao longo de cinco dias, o evento espera receber 195 mil visitantes e superar os R$ 13,2 bilhões em negócios do ano passado, além de movimentar R$ 500 milhões em turismo para a economia da região.
Na cerimônia de abertura, o presidente da feira, João Carlos Marchesan, fez uma breve menção às demandas do agronegócio, como ampliação do crédito rural, incentivos a segmentos como irrigação e armazenagem e reforço de linhas de financiamento, como o Moderfrota (máquinas agrícolas), Pronaf (agricultura familiar) e Pronamp (médios produtores).
“Temos que pensar muito forte no nosso pano safra novo, que vai ser anunciado agora, porque nosso agro precisa de muito recurso para investimento e custeio”, afirmou.
Ele enfatizou a evolução tecnológica trazida pelo evento ao longo das últimas três décadas. Para o executivo, a feira ficou marcada pelo seu compromisso com a inovação no agronegócio, além de promover a sustentabilidade e a inclusão, ressaltando que, hoje, a Agrishow tem, por exemplo, um espaço dedicado à participação das mulheres, que são 30% dos visitantes.
“A primeira edição da Agrishow superou expectativas. A segunda, sofreu grandes perdas e a feira quase acabou. A maior parte dos expositores não queria continuar, mas quatro seguiram em frente, acreditaram e seguiram no projeto”, contou, em referência às companhias Jacto, Marchesan, Baldan e Jumil, que participaram de todas as edições.
Por Globo Rural