A detecção tardia, falhas médicas e a dificuldade de acesso a exames são problemas que impactam severamente a população negra no sistema de saúde. Para evidenciar essas realidades, o curta-metragem Corpo Negro foi lançado na terça-feira (1º), com uma exibição seguida de um debate no Cinema Estação do Shopping da Gávea, situado na zona sul do rio de Janeiro. O filme pode ser assistido online através deste link, retratando a jornada de um homem que enfrenta a indiferença dos profissionais da saúde.
Dirigido por Nany Oliveira, o filme faz parte do projeto Mediversidade, uma iniciativa dos setores sociais de dois grupos educacionais. Lançado pelo Instituto de Educação Média (Idomed) e pelo Instituto Yduqs, o projeto tem como objetivo promover um ensino mais inclusivo e diversificado. Entre as instituições participantes estão Estácio, Ibmec, damásio e Faculdade Pan Amazônica (Fapan), que se comprometeram em implementar diversas ações para melhorar essa situação.
diversas pesquisas têm revelado dados alarmantes sobre desigualdades no atendimento médico. um estudo realizado em 2018 pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) mostrou que mulheres negras e pardas têm duas vezes mais chances de receber diagnósticos tardios para câncer de mama em comparação às mulheres brancas. Os resultados foram publicados na Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia.
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Uma pesquisa realizada em 2023 indicou que pacientes negros apresentam maior probabilidade de serem hospitalizados devido a erros médicos em quase todas as regiões brasileiras, exceto no Sul. Os dados foram apresentados por meio da análise feita pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (Ieps) junto ao Instituto Çarê. A investigação analisou 66.496 internações entre 2010 e 2021 e revelou que as chances desse tipo ocorrer com pessoas negras são 65,2% maiores no Sudeste e impressionantes 585,3% maiores no Nordeste.
Ainda neste ano, uma pesquisa conduzida pelo Ministério da Saúde juntamente com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revelou que as taxas maternas entre mulheres negras são mais do dobro das registradas entre brancas. Essa conclusão foi baseada nos óbitos ocorridos até 42 dias após o parto relacionados à gestação.
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No curta-metragem Corpo Negro, letreiros informativos destacam ainda como consultas médicas tendem a ser mais longas quando realizadas com pacientes brancos comparados aos negros — além disso ressalta-se que mesmo diante dessa invisibilidade social dos pacientes negros seus corpos são frequentemente utilizados como matéria-prima nos cursos acadêmicos voltados à Medicina.
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Outro ponto abordado é a escassez significativa desses profissionais dentro das instituições médicas: segundo dados coletados pelo Censo Demográfico realizado em 2022 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), apenas 2,8% dos graduados em Medicina se identificaram como pretos — enquanto75% se declararam brancos e19% pardos.
A proposta apresentada pelos institutos Idomed e Yduqs através do Mediversidade busca enfrentar esses desafios estruturais existentes nas áreas educacional e médica brasileira por meio da implementação efetiva dessas medidas: cursos gratuitos sobre letramento étnico-racial direcionados tanto para docentes quanto discentes; aumento significativo das vagas afirmativas durante contratações docentes; revisão curricular visando maior inclusão nos cursos superiores; priorização nas pesquisas científicas focadas na diversidade racial; concessão integralmente gratuita às bolsas destinadas estudantes pretos ou pardos além da introdução obrigatória manequins representativos durante aulas práticas simuladas.