Brasília (08/10/2025) – A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) apresentou, na quarta-feira (8), um estudo inovador que oferece uma visão abrangente da situação das estradas vicinais no país. A pesquisa identifica os investimentos necessários para restaurar essas vias, calcula os custos econômicos e ambientais decorrentes das péssimas condições de conservação e propõe soluções para mudar essa realidade.
O presidente da CNA, João Martins, juntamente com os deputados Tião Medeiros (PP-PR) e Rafael Simões (União-MG), iniciou o evento de apresentação do estudo com discursos.
A sede da CNA também recebeu a presença de parlamentares, lideranças e representantes do setor produtivo, presidentes de Federações estaduais de agricultura e pecuária, diretores do Sistema CNA/Senar e convidados especiais.
João Martins e o presidente da Comissão Nacional de Infraestrutura e Logística da CNA, Mário Borba, entregaram o documento aos parlamentares destacados.
O evento incluiu a apresentação do estudo pela assessora técnica Elisangela Pereira Lopes, junto com debates e palestras com o coordenador geral do Grupo Esalq-Log/USP, Thiago Guilherme Péra, e a pesquisadora do grupo, Daniela Bacchi Bartholomeu.
O estudo “Panorama das Estradas Vicinais no Brasil” foi desenvolvido em resposta a uma solicitação da CNA ao Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-Log).
O estudo analisou bases de dados públicas disponíveis no Brasil, incluindo dados da Confederação Nacional do Transporte, do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit) e da plataforma colaborativa OpenStreetMap (OSM).
Além da análise documental, a CNA e os pesquisadores da Esalq-Log realizaram visitas a campo em oito microrregiões brasileiras para verificar as condições das estradas vicinais que são essenciais para várias comunidades rurais e para a produção agropecuária.
Estradas Terciárias e Não Classificadas – Estradas vicinais são vias não pavimentadas, geralmente de terra ou revestimento natural, que conectam áreas rurais e centros urbanos.
No estudo da CNA/Esalq-Log, as vicinais foram categorizadas como estradas terciárias, que têm largura suficiente para dois veículos passando em direções opostas, e as “não classificadas”, que são estreitas, permitindo a passagem de apenas um veículo por vez.
Ipev – O estudo introduziu um índice próprio que determina quais vias necessitam de manutenção e recuperação imediata, chamado Índice de Priorização das Estradas Vicinais (Ipev). Através do Ipev, é possível identificar as regiões que devem ser priorizadas em investimentos de infraestrutura viária rural.
Para definir as áreas “altamente prioritárias” para manutenção e recuperação de vicinais, o estudo considerou vários fatores, como a importância da estrada para o escoamento da produção agropecuária e aspectos sociais, econômicos, ambientais e de infraestrutura.
Importância Estratégica – As estradas vicinais desempenham um papel estratégico na logística do agronegócio e na economia nacional. O estudo revela que a carga transportada nessas vias é de aproximadamente 1,4 bilhão de toneladas.
Os produtos mais comuns transportados incluem cana-de-açúcar, cereais, leguminosas, oleaginosas, frutas, lavouras permanentes e temporárias, leite, madeira, milho, soja e produtos de origem animal.
Os dados do estudo da CNA fornecem informações úteis para orientar as ações de órgãos públicos e entidades federativas voltadas a cada região.
Conclusões Principais do Estudo
- Análise das Vias Rurais – O Brasil possui aproximadamente 2,2 milhões de km de estradas vicinais, repartidas em 557 microrregiões. Desses, 367 mil km são estradas terciárias e 1,8 milhão de km (84,5%) são estradas “não classificadas”.
- Investimento Prioritário – Para adequar 177 mil quilômetros de estradas terciárias em regiões de alta prioridade, estima-se um custo necessário de R$ 4,9 bilhões por ano. O custo anual de manutenção para esse padrão é de R$ 35 mil por km.
Essas vias não são apenas vitais para as comunidades locais; são fundamentais para o setor agropecuário, pois conectam propriedades rurais a grandes corredores logísticos, facilitando o transporte da produção para portos ou centros de distribuição.
De acordo com Elisangela Pereira Lopes, assessora técnica da Comissão Nacional de Logística e Infraestrutura da CNA, “o investimento de R$ 4,9 bilhões por ano para adequar as estradas vicinais a um padrão mínimo de qualidade não é somente viável, mas também estratégico. Este valor representa menos de um terço do prejuízo anual (R$ 16,2 bilhões) gerado pelas más condições dessas vias, apenas em custos operacionais. Com esse investimento, seria possível melhorar a qualidade de vida das populações rurais e garantir um escoamento de alimentos mais seguro e eficiente”.
- Investimento Total para Vias Terciárias – Para elevar todos os 367 mil km de estradas terciárias ao padrão mínimo, o investimento requerido é de R$ 10 bilhões por ano.
- Padrão Superior – Para melhorar 101 mil km de estradas vicinais do padrão ‘ruim’ para ‘superior’ nas regiões prioritárias, seria necessário um investimento de R$ 12,6 bilhões. O custo de manutenção nesse nível é de R$ 131 mil por km/ano.
- Ganhos Operacionais – A melhoria das estradas vicinais pode reduzir em R$ 6,4 bilhões anuais os custos operacionais (combustível, manutenção, insumos, mão de obra etc). Atualmente, esses custos somam R$ 16,2 bilhões anuais. Assim, um investimento de R$ 4,9 bilhões poderia resultar em uma economia líquida de R$ 11,3 bilhões nos custos operacionais.
- Benefício Ambiental – Com estradas vicinais em padrão “alta qualidade”, seria possível cortar 1 milhão de toneladas anuais das emissões de CO₂, em comparação à situação atual.
Visitas a Campo – Em março deste ano, a CNA e a Esalq-Log visitaram oito microrregiões nos estados da Bahia, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará e Paraná para conhecer na prática alguns trechos e validar a metodologia do estudo.
Mais de 1.200 quilômetros foram percorridos, e 150 pessoas foram entrevistadas, incluindo agricultores e secretários municipais de infraestrutura e agricultura. Quebras, erosões, ondulações, atoleiros, acúmulo de água e pontes precárias foram alguns dos problemas identificados.
O estudo também destacou obstáculos que dificultam investimentos e melhorias, como orçamento público limitado, extensa malha viária e escassez de mão de obra técnica qualificada para a execução das obras.
Recomendações – No estudo “Panorama das Estradas Vicinais no Brasil”, a CNA sugere estratégias para transformar a malha vicinal em vias eficientes e bem estruturadas.
Entre as recomendações, destacam-se ações para aprimorar a logística de distribuição de materiais, fortalecer a colaboração entre os setores público e privado, e estabelecer canais diretos de comunicação com os produtores rurais, facilitando o registro e o atendimento das principais demandas relacionadas a estradas. O estudo também enfatiza a necessidade de melhorar a eficiência operacional através da capacitação de mão de obra e da formação de equipes técnicas especializadas na gestão e manutenção de estradas vicinais.
O Panorama sugere ainda a criação de planos estruturados voltados para a manutenção e adequação dessas vias, como a aprovação do Projeto de Lei n.º 1146/2021 (criação da Política Nacional de Mobilidade Rural e Apoio à Produção – Estradas da Produção Brasileira) e a implementação efetiva do Programa Nacional de Estradas Vicinais (Proner), do Ministério da Agricultura, que foca, entre outras coisas, na manutenção dessas vias.
Acesse o estudo
Assessoria de Comunicação do Sistema CNA/Senar