Moeda dos Estados Unidos é a referência para muitos preços globais
O dólar americano é a moeda de referência para muitos preços globais. No agronegócio, seu impacto interfere em toda a cadeia produtiva. Entenda ponto a ponto:
1. Preço das commodities
Produtos como soja, milho, café, suco de laranja e açúcar têm suas cotações internacionais definidas por bolsas de commodities.
Quando o dólar sobe na comparação com várias moedas, o preço das commodities costuma cair. Isso acontece porque os compradores estrangeiros precisam gastar mais em moeda local para comprar a mesma quantidade de produto em dólar.
Ao contrário, quando o dólar recua, as cotações na bolsa sobem, porque os países compradores gastam menos em moeda local para adquirir os produtos.
2. Exportações e importações
Os produtos agrícolas brasileiros – negociados em bolsa ou não – ficam mais competitivos no mercado internacional quando o dólar cai em relação a outras moedas. Isso costuma aumentar as exportações. Por outro lado, um dólar mais forte costuma reduzir a demanda por produtos brasileiros por elevar o custo dos compradores.
3. Custo de produção
Muitos insumos agrícolas, como fertilizantes, defensivos e máquinas, são importados. Se o dólar sobe na comparação com o real, os custos aumentam e pressionam a margem de lucro dos produtores e empresas.
4. Dívida e financiamento
Produtores e empresas agrícolas têm, às vezes, dívidas atreladas ao dólar e a oscilação da moeda aumenta ou diminuiu o valor dessas dívidas. É um desafio se programar.
5. Investimento
O valor relativo do dólar também determina se uma empresa estrangeira deve ou não investir – ou continuar investindo – no Brasil. O dólar forte na comparação com o real torna o aporte de recursos no país menos atraente e vice-versa.
6. Fluxo de caixa e planejamento
A volatilidade do dólar prejudica o planejamento de longo prazo de produtores e empresas, dificultando prever custos e receitas futuras.
Qual é o cenário ideal para o agro?
Se o dólar está “barato ou caro”, acaba sendo menos importante que se supõe. O desejo das empresas e produtores é a estabilidade.
“No mundo ideal, o dólar poderia cair na época de comprar insumos e subir após a colheita”, brinca Sérgio Mendes, presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec). Ao falar sério, Mendes afirma que o ideal é oscilar pouco porque assim empresas e produtores podem programar suas compras e vendas.
Vanessa Gasch, gestora de desenvolvimento regional da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), também lembra que nem todos os produtores e empresas compram os insumos e vendem a soja e outras commodities na mesma época, portanto, não existe um calendário ideal de câmbio.
O preço dos grãos e outras commodities é formado não só pelo dólar, mas também pelas cotações nas bolsas de Chicago, Nova York e Londres. Com a expectativa de boa safra para todos os produtos e com o fim do período restritivo de pandemia, esses preços vêm caindo, o que afeta a margem dos produtores e exportadores.
Como funcionam os prêmios?
Afora câmbio e preço na bolsa, o valor dos produtos tem um prêmio que pode ser positivo ou negativo, a depender principalmente das condições logísticas para escoamento da safra e dos custos de porto (que são em dólar).
“O preço é feito da forma que o comprador te enxerga. Se o comprador perceber que está apertado, não há caminhões para levar os grãos aos portos, há filas para embarcar nos navios, ele coloca preço lá embaixo”, afirma Mendes.
É comum que, no período de pico da safra, o prêmio fique negativo no porto por questões logísticas e falta de estrutura de armazenagem. Ao contrário, no período de entressafra e falta de produtos, os prêmios pagos no porto sobem.
Do ponto de vista do produtor, também é importante descontar o valor que irá gastar com frete até o porto ou comprador para entender o valor ideal de negociação de eu produto final.
Os contratos hedge e barter
Para se proteger dessas oscilações, empresas e grandes produtores fazem contratos de hedge, que são basicamente um instrumento que os protege de oscilações futuras, seja do câmbio, seja do preço das commodities.
No negócio, os produtores ou exportadores estabelecem com seus compradores um preço fixo pela soja, por exemplo, que só será pago futuramente (na entrega dos produtos). Até o vencimento do contrato, se o preço subir, o vendedor tem que depositar a diferença na bolsa. Se cair, a bolsa deposita a diferença ao vendedor.
O problema do hedge é que exige um fundo de caixa muito grande e por isso normalmente não é feito pelos produtores e sim pelas trandings e exportadoras.
“Essas empresas entendem que o lucro delas têm que vir da comercialização e commodities e não da especulação financeira. Tentar adivinhar cotação do dólar e de produtos negociados em bolsa é tentar a sorte”, afirma Mendes.
Para o produtor, o que resta é travar a compra de insumos com a operação de barter (troca), quando ele fecha um contrato de entrega no futuro com uma trading ou cerealista e adquire os insumos no presente.
“Ambas as operações, hedge e barter, visam proteger o produtor de oscilações nos preços, no qual o ‘melhor período’ para fazê-las depende de cada produtor. O mais sugerido é antes de semear a safra, para que pelo menos o custo de produção da fazenda já esteja ‘travado’, garantido o seu pagamento”, explica Vanessa.
Por Fernanda Pressinott