Certificação do hidrogênio de baixo carbono: definição, funcionamento e importância para o Brasil

8MLnff6Ce3KgJC6sNa65JrPe.webp

A certificação do hidrogênio de baixo carbono (H₂BC) está se consolidando como um dos pilares da transição energética global. No Brasil, esse selo ambiental pode ser crucial para atrair investimentos, aumentar a competitividade e posicionar o país como referência no mercado de hidrogênio limpo. Mas afinal, o que define essa certificação e por que ela é tão importante para a indústria e para o setor de transportes pesados?

O que é a certificação do hidrogênio de baixo carbono

A certificação do H₂BC funciona como um selo que comprova que o hidrogênio foi produzido com baixa emissão de gases de efeito estufa (GEE). Esse mecanismo diferencia o hidrogênio convencional e garante a efetividade na redução das emissões em setores estratégicos.

Para compradores, investidores e governos, essa certificação traz segurança quanto à rastreabilidade e credibilidade ambiental do produto. “Fortalece tanto o mercado interno quanto o de exportação, criando condições favoráveis para que projetos brasileiros possam acessar políticas de incentivo, como o Regime Especial de Incentivos para a Produção de Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono (Rehidro) e o Programa de Desenvolvimento do Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono (PHBC), além de competir globalmente, especialmente em mercados exigentes como o europeu”, destaca Roberto Muniz, diretor de Relações Institucionais da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Como funciona a certificação

A certificação avalia todo o ciclo produtivo do hidrogênio, desde a geração até a saída da fábrica, seguindo modelos como o well-to-gate (do poço ao portão), amplamente utilizado internacionalmente. Padrões como a ISO/TS 19870:2023 orientam o cálculo das emissões envolvidas na produção.

Ele é essencial para insumos importantes na transição energética, como:

  • amônia verde (base para fertilizantes de baixo carbono e combustíveis marítimos);
  • combustíveis sustentáveis para aviação (SAF);
  • combustíveis para navegação e transporte pesado;
  • aço verde, em que o hidrogênio substitui o coque de carvão na siderurgia.
     

Estudo da CNI destaca relevância da certificação e práticas internacionais

Apresentado na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), o estudo da CNI reforça que um sistema nacional confiável de certificação é essencial para destravar investimentos e acelerar a transição energética. A análise contemplou modelos de dez países, incluindo Alemanha, Reino Unido, Estados Unidos, China, França e Coreia do Sul, buscando práticas aplicáveis ao Brasil. O levantamento apontou que o modelo well-to-gate é utilizado pela maioria dos sistemas de certificação pesquisados.

Segundo Davi Bomtempo, superintendente de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, o Brasil está bem posicionado para liderar o mercado global de hidrogênio de baixo carbono, principalmente devido à sua matriz elétrica majoritariamente renovável. “O estudo destaca a importância de uma certificação confiável, sobretudo para garantir a credibilidade ambiental; dessa forma, investimentos são atraídos e o acesso a políticas de incentivo econômico é facilitado”, complementa Bomtempo.

A análise conclui que a certificação do H₂BC é fundamental para consolidar a credibilidade ambiental do hidrogênio brasileiro, abrindo caminho para investimentos nacionais e internacionais, além de permitir que empresas se adequem a regulações como o Mecanismo de Ajuste de Carbono na Fronteira da União Europeia (CBAM), aumentando a competitividade global.

Sistema brasileiro de certificação do hidrogênio

A CNI recomenda que o Sistema Brasileiro de Certificação do Hidrogênio (SBCH2), previsto no marco legal do hidrogênio de baixa emissão de carbono (Lei 14.948/2024) e ainda aguardando regulamentação, seja flexível e adequado à realidade produtiva nacional. Defende também que o uso exclusivo de novas fontes renováveis (adicionalidade) seja opcional no mercado interno, para evitar aumento de custos e preservar a competitividade. O certificado nacional poderia conter informações básicas e, opcionalmente, dados mais detalhados para fins de exportação.

Indústria brasileira testa modelos de rastreabilidade

Iniciativas no país já indicam uma possível adoção futura da certificação. Em Pernambuco, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), em parceria com empresas como Neuman & Esser, Hytron, Siemens e White Martins, desenvolve um sistema digital de rastreamento com sensores e Internet das Coisas (IoT) para garantir a rastreabilidade completa da produção.

No Porto de Suape, um eletrolisador de 100 kW produz diariamente cerca de 30 kg de hidrogênio verde, vazão suficiente para abastecer quatro veículos por aproximadamente 100 km cada. A estrutura conta com sistemas de armazenamento, célula a combustível e estação de abastecimento, permitindo testar todo o ciclo de produção, armazenamento e uso do H₂BC.

De acordo com a CNI, em âmbito nacional, mais de R$ 250 milhões já foram investidos em 45 projetos de pesquisa conduzidos pelos Institutos SENAI de Inovação, envolvendo 62 empresas e 17 instituições científicas. O objetivo é validar tecnologias eficientes e sustentáveis para a produção e utilização do hidrogênio de baixo carbono no Brasil.
 

]]>

Plugin WordPress Cookie by Real Cookie Banner
scroll to top