Em 2022, quase 30% da população da região, ou 182,9 milhões de pessoas, não podiam pagar por uma dieta saudável
O custo de uma dieta saudável na América Latina e no Caribe aumentou 11,8% entre 2021 e 2023, sendo a região com o maior custo no mundo, de US$ 4,56 por pessoa por dia. No mundo, o custo médio de uma dieta saudável era de US$ 3,96 por pessoa por dia, 11,2% acima da média registrada em 2021. Os dados fazem parte do relatório Panorama Regional de Segurança Alimentar e Nutrição 2024, elaborado por organizações vinculadas à Organização das Nações Unidas (ONU) e divulgado nesta segunda-feira (27/1).
Uma dieta saudável é definida como uma seleção diversa e adequada de alimentos consumidos ao longo do tempo, que garanta o suprimento das necessidades de proteínas, gorduras, carboidratos e fibras alimentares, vitaminas e minerais.
No mundo, 2,8 bilhões de pessoas não podiam pagar o custo de uma dieta saudável, ou 35,4% da população em 2022. Em relação a 2021, 50,1 milhões de pessoas que não podiam pagar uma alimentação saudável passaram a fazê-lo.
Na América Latina e Caribe, 27,7% da população da região, ou 182,9 milhões de pessoas, não podiam pagar por uma dieta saudável em 2022. Em comparação com 2021, houve redução de 2,4 pontos percentuais, ou 14,3 milhões de pessoas a mais podendo pagar por uma dieta saudável. Na América do Sul, 26%, ou 113,6 milhões de pessoas não podiam pagar por uma dieta saudável. No Brasil, esse índice é de 26,3%.
O Caribe é a sub-região com o maior custo dentro da América Latina e Caribe, com US$ 5,16 por pessoa por dia, seguido pela América do Sul, com US$ 4,29, e América Central, com US$ 4,05 por pessoa por dia.
Problemas climáticos
De acordo com o relatório, as desacelerações econômicas são um fator-chave que afeta a segurança alimentar na América Latina e no Caribe. Mas as mudanças climáticas também têm peso importante.
Na região, 20 países apresentaram alta exposição a fenômenos climáticos extremos, ficando ainda mais suscetíveis à insegurança alimentar. A frequência de fenômenos climáticos extremos aumentou 50% nas duas últimas décadas, para 55,1 eventos por ano na América Latina e no Caribe.
Na América do Sul, a média de riscos relacionados ao clima aumentou 75,6% entre 1990 e 2023. A frequência de secas aumentou de 3 vezes ao no para 3,3 vezes ao ano. Já a média de episódios de enchentes saltou de 16 para 32,1 por ano.
Nas regiões agropecuárias da América Central e da América do Sul, a seca prolongada durante 2022 afetou agricultura, energia, abastecimento de água e transportes da região. No Brasil, o índice de produção agrícola caiu 5,2% com queda na produção de soja e milho.
Além das mudanças no padrão de chuvas e do aumento das secas severas na última década, o relatório também destaca o aumento dos incêndios florestais.
“O ano de 2024 foi o de maior calor da História. Nos últimos meses vimos incêndios que arrasaram 1 milhão de hectares na Amazônia. O furacão Berry em julho de 2024 foi devastador para os países do Caribe. Em Novembro, as tempestades destruíram regiões produtivas em Cuba e Honduras”, observou Maria Dolores Castro, diretora regional do Programa Mundial de Alimentos (WFP, na sigla em inglês) para a América Latina e o Caribe.
Diversificação
A diretora sugere aos países estimular a diversificação da produção agrícola local, para ajudar a desenvolver as economias locais e reduzir emissões de gases de efeito estufa com transporte de alimentos. Castro estima que para cada 1 mil toneladas de alimentos comprados localmente, há uma redução de emissão de 55 toneladas de carbono equivalente na atmosfera.
Mario Lubetkin, subdiretor-geral e representante regional da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) para a América Latina e o Caribe, ressaltou a importância dos governos incentivarem a diversificação da produção agrícola para garantir mais segurança alimentar e a adoção de sistemas agroflorestais para fomentar a biodiversidade.
Rossana Polastri, diretora regional da divisão da América Latina e do Caribe do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), disse que os países precisam investir mais no fortalecimento de sistemas alimentares e em proteção contra os efeitos climáticos extremos. Ela destacou que o FIDA tem programas de fomento à produção agrícola. “Mas também é necessário atrair novos capitais para aumentar a oferta de financiamento para o setor agropecuário, por exemplo, com recursos do setor privado”, afirmou Polastri.
Por Cibelle Bouças