Quatro iniciativas focadas na descarbonização e digitalização da cadeia automotiva vão movimentar R$210 milhões nos próximos três anos, com investimentos do Programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover) e de empresas do setor. Esse aporte será destinado ao desenvolvimento de tecnologias inéditas no Brasil, como motores a etanol, aço com baixa pegada de carbono, sensores radar automotivos e novas aplicações com grafeno.
As propostas foram selecionadas na chamada “Projetos Estruturantes”, promovida pela Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) e pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), que também ficaram responsáveis pela captação dos recursos. Do total, 85,5% são recursos não reembolsáveis do Mover — programa vinculado à Nova Indústria Brasil (NIB) — e 14,5% correspondem à contrapartida das empresas.
Os projetos envolvem grandes indústrias automotivas, siderúrgicas, startups e instituições de ciência e tecnologia (ICTs). Veja abaixo as empresas participantes e os detalhes dos projetos.
Autossuficiência tecnológica
A gerente de Operações de Inovação e Tecnologia do SENAI, Patricia Garcia Martins, ressalta que a aprovação desses projetos pode ampliar a autonomia tecnológica do país em áreas estratégicas, especialmente na digitalização, que atualmente depende em 90% de tecnologias produzidas no exterior.
“O principal benefício desses projetos no curto prazo é criar uma competência nacional para o desenvolvimento dessas tecnologias. E, com a conclusão dos projetos em três anos, essas inovações podem ser adotadas pelas montadoras ou originar novas indústrias na cadeia de fornecedores, tornando-se parte da capacidade tecnológica nacional.”
Martins destaca que a nacionalização dessas tecnologias abre novas oportunidades para os fornecedores das montadoras, permitindo que componentes hoje importados passem a ser produzidos e comercializados no Brasil. “Isso reduz custos, diminui prazos, estimula o emprego local e cria novas demandas para a indústria”, afirma.
Redução dos custos de produção
A gerente do SENAI também frisa que as tecnologias desenvolvidas poderão reduzir os custos de produção e o consumo de combustíveis. “No projeto do motor a etanol, por exemplo, o foco é utilizar uma tecnologia que aumente a eficiência do motor. Ou seja, você vai precisar menos abastecer em postos de gasolina, além de incentivar o uso de um combustível que — quando comparado aos fósseis — é muito mais limpo e que o Brasil tem vantagem competitiva, porque possui uma produção em grande escala de etanol”, explica.
Segundo ela, os projetos impactam diretamente os três pilares do ESG. No âmbito ambiental, contribuem para a redução da pegada de carbono; no econômico, elevam a competitividade, atraem investimentos e geram empregos; e no social, resultam em veículos mais limpos, seguros e que promovem maior qualidade de vida para a população.
Conheça os projetos aprovados
1. Motor a etanol de alta eficiência
Desenvolver motores a etanol para veículos leves com alta eficiência, combinando alta taxa de compressão, combustão ultra-pobre e ignição distribuída por pré-câmara. O projeto abrange simulações, otimização de pistões, estratégias para combustão acelerada, ajuste de ignição e injeção, sistemas virtuais de válvulas e a criação de um bloco de motor mais resistente e sustentável.
- ICTs Proponentes: ISI em Manufatura Avançada e Microfabricação (SP) e Instituto Tecnológico de Aeronáutica (SP)
- ICTs Participantes: ISI em Processamento a Laser (SC) e ISI em Engenharia de Estruturas (PR)
- Empresas: Volkswagen, Stellantis, General Motors, Hyundai, CNH, Tupy, MWM Tupy, Horse, Mahle, Schaeffler, AVL, Dirac e Liconic
- Valores: R$ 48,8 milhões (R$ 44 milhões do Mover + R$ 4,8 milhões de contrapartida)
2. Redução da emissão de CO₂ na cadeia produtiva automotiva por meio da descarbonização do processo siderúrgico – Aço de baixa pegada de carbono
Reduzir as emissões de CO₂ na cadeia automotiva através da descarbonização siderúrgica. O projeto utiliza hidrogênio como agente redutor, matérias-primas renováveis e inclui testes em bancada e planta piloto, como alto-forno experimental e simulador de redução direta, criando infraestrutura inédita no Hemisfério Sul para tecnologias alinhadas às metas globais de sustentabilidade.
- ICTs Proponentes: ISI em Metalurgia e Ligas Especiais (MG) e Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT (SP)
- ICTs Participantes: ISI em Processamento Mineral (MG)
- Empresas: Usiminas, CSN, Stellantis, Mercedes-Benz, IBAR, Nissan e Iveco Group
- Valores: R$ 76,8 milhões (R$ 59,8 milhões do Mover + R$ 17 milhões de contrapartida)
3. ADAS com sensor radar nacional: implantação de planta piloto para desenvolvimento, amadurecimento e nacionalização tecnológica
Desenvolver uma solução nacional de sistema ADAS com radar automotivo de médio e longo alcance, reduzindo a dependência externa e fortalecendo a soberania tecnológica. O projeto inclui arquitetura aberta e segura, planta piloto para produção e testes, integração com câmeras para funções como frenagem automática e controle de cruzeiro, garantindo competências nacionais e protótipos funcionais para futura industrialização.
- ICTs Proponentes: ISI em Tecnologia da Informação e Comunicação (PE) e Instituto de Pesquisa Eldorado (SP)
- ICTs Participantes: ISI Sistemas Embarcados (SC) e Universidade Federal de Pernambuco (PE)
- Empresas: Stellantis, Volkswagen, Krah, Valeo, TE Connectivity, Tron, Volkswagen Truck & Bus, Macieiras Labs Ltda, Onmotus Engenharia Ltda
- Valores: R$ 41,9 milhões (R$ 37,6 milhões do Mover + R$ 4,3 milhões de contrapartida)
4. Hub do Grafeno: novas tecnologias com grafeno para a descarbonização da indústria automobilística
Estruturar um hub tecnológico nacional para desenvolver e validar nanocompósitos de polímeros virgens e reciclados com grafeno, aplicados em peças automotivas mais leves e sustentáveis. O projeto compreende infraestrutura piloto para síntese e funcionalização de grafeno, rotas nacionais de produção, metodologias de dispersão, validação em protótipos, análise do ciclo de vida e integração com a cadeia automotiva, acelerando a inserção dessas tecnologias no mercado.
- ICTs Proponentes: ISI em Materiais Avançados e Nanocompósitos (SP) e Centro de Tecnologia em Nanomateriais e Grafeno (CTNano – MG)
- ICTs Participantes: ISI em Manufatura Avançada e Microfabricação (SP), ISI em Eletroquímica e Universidade Federal de São Carlos (UFSCar – SP)
- Empresas: Toyota, Volkswagen, General Motors, Ford, Caio, Hyundai, Mahle, Plascar, Dinaco, Planet Color, Wise Plásticos, Sulbras Moldes e Plásticos, Ipol Nanotecnologia, Nanum Nanotecnologia, Montana Química, Urb Mining, Hexographene e Degrad
- Valores: R$ 42,2 milhões (R$ 38 milhões do Mover + R$ 4,2 milhões de contrapartidas)
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