Nova medida de Trump faz exportações livres de sobretaxa ultrapassarem as exportações com tarifa de 50%

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O governo dos Estados Unidos retirou a tarifa de 40% sobre 238 produtos agrícolas listados, dos quais 85 foram exportados pelo Brasil em 2024. Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), essa decisão representa um avanço significativo na renovação da agenda bilateral entre os dois países. Segundo o estudo divulgado pela entidade nesta sexta-feira (21), a medida faz com que 37,1% das vendas brasileiras ao mercado norte-americano (US$ 15,7 bilhões) fiquem isentas de taxas adicionais.

De acordo com o levantamento, pela primeira vez desde agosto, o volume exportado livre das sobretaxas ultrapassa o volume sujeito à tarifa integral de 50%, que representa 32,7% das exportações.

Os cálculos consideram dados de 2024, com base nas estatísticas da Comissão de Comércio Internacional dos Estados Unidos. O superintendente de Relações Internacionais da CNI, Frederico Lamego, explica que, nessa nova determinação, 231 produtos exportados pelo Brasil passam a ter alíquota zero. Segundo ele, a publicação feita pelos EUA teve como motivação dois fatores principais.

“O primeiro é a pressão inflacionária nos Estados Unidos, e o segundo é a primeira ordem executiva que menciona nominalmente o processo de negociações em andamento entre os EUA e o Brasil. Ou seja, isso já é um gesto de boa vontade do governo americano para que as negociações entre Brasil e Estados Unidos avancem o quanto antes”, afirma Lamego.

Para o presidente da entidade, Ricardo Alban, essa movimentação também reflete o papel do Brasil como parceiro comercial dos EUA. “Recebemos com grande otimismo a ampliação das exceções e acreditamos que essa medida reestabelece parte do papel que o Brasil sempre teve como um dos principais fornecedores do mercado americano”, ressalta. Ainda segundo Alban, o setor privado tem atuado de forma consistente para contribuir com a evolução das negociações relacionadas ao tarifaço.

“A complementaridade das economias é real e agora precisamos avançar nos termos para a entrada de bens da indústria, para a qual os EUA são nosso maior mercado, como também para o setor de máquinas e equipamentos, por exemplo”, destaca o presidente.

Mesmo com a alteração, 62,9% das vendas brasileiras para os EUA continuam sujeitas a algum tipo de tarifa adicional, considerando tanto as medidas horizontais quanto as setoriais, como as aplicadas ao aço e alumínio.

Como fica a situação das exportações brasileiras aos EUA:

  • Isentas de sobretaxa: 37,1% das exportações (US$ 15,7 bilhões);
  • Total de exportações sujeitas a algum tipo de tarifa: 62,9%;
  • Tarifa recíproca de 10%: 7,0% das exportações (US$ 2,9 bilhões);
  • Tarifa adicional de 40%: 3,8% das exportações (US$ 1,6 bilhão);
  • Tarifa combinada de 50% (10% de tarifa recíproca + 40% específica ao Brasil): 32,7% das exportações (US$ 13,8 bilhões);
  • Tarifa setorial de 50% (Seção 232): 11,9% das exportações (US$ 5 bilhões);
  • Isenção da tarifa de 40% condicionada à destinação para a aviação civil, instituída pela Ordem Executiva de julho: 7,5% das exportações (US$ 3,2 bilhões).

Dentre os produtos incluídos na lista de itens isentos da sobretaxa de 40%, aplicada ao Brasil desde agosto, estão carne bovina, café e cacau — insumos considerados comuns na cesta de consumo da população dos Estados Unidos.

Segundo a avaliação da CNI, essa nova medida torna os produtos brasileiros novamente competitivos no mercado, visto que a remoção das tarifas recíprocas de 10%, na semana passada, havia deixado os itens nacionais em “condições menos vantajosas”.

Governo reagiu com otimismo

Após o anúncio de Donald Trump sobre a remoção da tarifa de 40% aplicada a centenas de produtos agrícolas nacionais, o governo brasileiro informou, na quinta-feira (20), por meio de nota, que recebeu a notícia com “satisfação”.

Na publicação, o Executivo afirma que manterá o diálogo para resolver questões entre os dois países, seguindo a tradição de 201 anos de excelentes relações diplomáticas. “O Brasil continuará mantendo negociações com os EUA visando a retirada das tarifas adicionais sobre o restante da pauta do comércio bilateral”, diz a nota.

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Além disso, na própria quinta-feira (20), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, em vídeo publicado nas redes sociais, que a suspensão anunciada por Trump foi um sinal importante.

“Não é tudo o que eu quero, não é tudo que o Brasil precisa, mas é algo importante. O presidente Trump acaba de anunciar que começará a reduzir a taxação de vários produtos brasileiros que foram taxados em 40%. Isso é um resultado muito importante”, declarou Lula.

Produtos contemplados

No final de julho, o presidente dos Estados Unidos impôs uma tarifa adicional de 40% sobre produtos do Brasil. Esse acréscimo foi somado à tarifa recíproca de 10% aplicada globalmente, totalizando 50%. Contudo, o decreto apresentou uma lista com quase 700 exceções, como suco de laranja e produtos de aviação.

Na semana passada, Donald Trump assinou uma ordem executiva que retirava a tarifa recíproca de 10% sobre a importação de produtos como café, banana, tomate e carne bovina.

Nessa ocasião, o governo americano informou que manteve a tarifa adicional de 40% para o Brasil. Porém, essa taxa foi reduzida para vários produtos na quinta-feira (20). Assim, itens como carne e café agora possuem taxação zerada.

Confira os principais setores beneficiados pelo “alívio” tarifário

Café

O café brasileiro foi um dos produtos mais afetados pelas tarifas, principalmente por ficar fora da primeira lista de exceções divulgada em 31 de julho.

Conforme o Conselho de Exportadores de Cafés do Brasil (Cecafé), os Estados Unidos foram o principal importador dos cafés brasileiros nos primeiros 10 meses de 2025. Nesse período, os EUA importaram do Brasil 4,711 milhões de sacas, o que representa uma queda de 28,1% em relação ao mesmo período de 2024.

Esse volume equivale a 14,2% dos embarques totais do ano. O presidente do Cecafé, Márcio Ferreira, declara que, diante dessas tarifas, havia a expectativa de perda de mais 30% do mercado, chegando a 80% caso as taxações tivessem avançado.

“Isso significa uma queda na balança comercial da ordem de aproximadamente 2 bilhões de dólares só para os Estados Unidos. Um outro ponto relevante é que o Brasil, para se manter nas exportações para outros países, vem sofrendo forte pressão pelos diferenciais aplicados ao café brasileiro, os quais, mesmo com a safra menor, se ampliaram bastante”, salienta.

Carne

A carne bovina, outro produto crucial na pauta exportadora brasileira para os EUA, também foi beneficiada.

Dados da Associação Brasileira de Frigoríficos (ABRAFRIGO) mostram que, mesmo com as tarifas adicionais impostas pela Casa Branca, as exportações de carne bovina mantiveram ritmo positivo em outubro, gerando receita de US$ 1,897 bilhão, um aumento de 37,4%, com movimentação de 360,28 mil toneladas (+12,8%).

No mesmo mês do ano anterior, a receita foi de US$ 1,380 bilhão e o volume, de 319,3 mil toneladas.

Frutas e outros produtos

O documento divulgado pelo governo dos Estados Unidos inclui também frutas como goiaba, abacate, banana, manga, cacau e açaí. Outros itens contemplados são nozes, água de coco, raízes e tubérculos.

Missão a Washington

Em setembro, a CNI liderou uma missão empresarial a Washington (EUA) com o objetivo de abrir canais de diálogo e contribuir para as negociações que visam reverter ou reduzir o tarifaço imposto pelos EUA sobre produtos brasileiros. A comitiva contou com cerca de 130 empresários, dirigentes de federações estaduais e representantes de associações industriais.

A agenda compreendeu reuniões no Capitólio, encontros bilaterais com instituições parceiras, plenárias com representantes do setor público e privado dos dois países, além de audiência pública na Comissão de Comércio Internacional dos EUA, no âmbito da investigação aberta contra o Brasil com base na Seção 301 da Lei de Comércio de 1974.

Setores mais afetados pelo tarifaço e representados na missão incluíram máquinas e equipamentos, madeira, café, cerâmica, alumínio, carnes e couro. Grandes empresas como Embraer, Stefanini, Novelis, Siemens Energy e Tupy também participaram da comitiva.

Estudos da CNI alertam que as tarifas adicionais podem causar um impacto negativo de até R$ 20 bilhões no PIB brasileiro e a perda de 30 mil empregos.
 

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