O documento foi protocolado como alegações finais em uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE), em tramitação na 5ª Zona Eleitoral.
O ex-vereador Ruan Kenobby apresentou ao Tribunal Regional Eleitoral de Roraima (TRE-RR) uma confissão por escrito em que afirma ter participado de um esquema de fraude à cota de gênero nas eleições municipais de 2024 pelo partido Democracia Cristã (DC), quando tentou a reeleição e acabou ficando como suplente. O documento foi protocolado como alegações finais em uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE), em tramitação na 5ª Zona Eleitoral.
Na manifestação, Ruan relata que tentou prestar essas informações de forma oral durante a audiência de instrução realizada no dia 12, mas alega que não conseguiu se pronunciar. “Tentei proferir isso na audiência de instrução e julgamento ocorrida no mesmo dia, mas infelizmente Vossa Excelência não permitiu que eu falasse”, escreveu.
O ex-parlamentar admite que grande parte das candidaturas femininas lançadas pelo DC tinha caráter apenas formal, com o objetivo de cumprir o percentual mínimo previsto na legislação eleitoral. “A verdade é que 90% das mulheres que foram candidatas pelo nosso partido foram apenas para cumprir a cota de gênero”, afirmou no texto.
Ruan aponta como responsáveis pela articulação interna do esquema os vereadores Adnan Wadson de Lima e Roberto Conceição dos Santos Franco, que, segundo ele, seriam “os cabeças de tal operação” e também “os maiores beneficiados” da suposta fraude.
Como exemplo, o ex-vereador cita a candidatura de Andrea Cordeiro da Silva, que, de acordo com seu relato, foi registrada apenas para compor a cota mínima de gênero. Ele afirma que Andrea é esposa de Jefre Afonso Lira Teles, funcionário comissionado de seu gabinete na Câmara Municipal de Boa Vista, e que obteve apenas 20 votos no pleito. Ruan declara ainda que, durante a campanha, Jefre pedia votos para o próprio Ruan, e não para a esposa, o que é apresentado como indício de que a candidatura teria sido apenas formal.
Na confissão, Ruan também descreve um suposto acordo para pagamento mensal de R$ 1.000,00 a cada candidata considerada “fake”. Em um dos trechos, ele relata: “Paguei R$ 1.200,00 ao vereador Adnan e mais R$ 800,00 em espécie, referente a duas candidatas daquele mês. Depois disso, os pagamentos passaram a ser feitos em espécie na sede do DC, entregues ao senhor Dermailton Bezerra (Miúdo), para que não houvesse transferência bancária da minha conta e dos demais vereadores”. Segundo o ex-vereador, posteriormente os valores teriam passado a ser entregues em dinheiro vivo diretamente ao então presidente municipal do partido, Dermailton Bezerra (Miúdo), na sede do DC, com o objetivo de evitar rastreamento bancário.
Ruan reafirma que Adnan Wadson de Lima e Roberto Conceição dos Santos Franco seriam os principais articuladores e beneficiários da operação e diz que Roberto Franco teria atuado ativamente na preparação das candidaturas e nos repasses financeiros.
O documento elenca uma série de elementos que, na visão do ex-vereador, indicariam a existência da fraude: o vínculo funcional de Jefre com seu gabinete na Câmara Municipal; uma suposta troca de favores envolvendo a indicação de Andrea para receber medalha honorífica na Casa; conversas por mensagens mencionadas como evidência de articulação; e a discrepância entre o número de seguidores de Andrea nas redes sociais e a votação final obtida.
O documento menciona baixa votação, ausência de movimentação nas redes sociais e prestações de contas padronizadas, sugerindo que os recursos de campanha teriam sido direcionados ao partido. Entre as candidatas citadas estão:
- Andrea Cordeiro da Silva (Dra. Andréa) – 20 votos; não teve publicações de campanha nas redes sociais e o perfil informado no Instagram não existe ou foi removido.
- Elane Florêncio Rodrigues (Elane Florêncio) – 499 votos; embora tenha sido a candidata feminina mais votada do partido, o texto aponta ausência de indícios de campanha ativa.
- Eliza da Silva Souza (Eliza Anjinha) – 14 votos; realizou 11 postagens no Instagram, nenhuma correspondente aos materiais registrados na prestação de contas.
- Geane Costa Machado (Geane Machado A Loira do Salão) – 41 votos; fez apenas uma publicação no Instagram, no dia da convenção do partido.
- Julyanna Almeida da Silva (Julyanna Almeida) – 8 votos; a rede social informada na candidatura não existe ou foi apagada.
- Maria Ednalva da Silva Feitosa (Konchita) – 27 votos; publicou apenas um conteúdo relacionado à campanha e manteve materiais antigos de eleições anteriores.
- Nadia Marques dos Santos (Nadia Marques) – 19 votos; fez quatro publicações durante o período eleitoral, sem conteúdos que indiquem campanha ativa.
- Maria Socorro Sicales Campos (Socorro Sicales) – 6 votos; não informou redes sociais à Justiça Eleitoral e sua última postagem no Facebook é de 2022.
Ao final do documento, Ruan declara assumir a responsabilidade por sua participação no esquema e pede que suas declarações sejam consideradas pelo juízo da AIJE. “Assumo toda responsabilidade pelas afirmações apresentadas e peço que sejam consideradas por vossa Excelência no julgamento”, concluiu. O processo segue em fase de julgamento.


