Imagine receber uma ligação de alguém se dizendo advogado, afirmando que você ganhou um processo e que só precisa pagar algumas taxas para receber o valor. Parece verossímil? Não é. Esse é o método usado por uma organização criminosa responsável por golpes que totalizam R$ 1,4 milhão em prejuízos apenas no Distrito Federal.
Uma operação conjunta do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) desarticulou uma quadrilha especializada no chamado “golpe do falso advogado”. A ação cumpriu dez mandados de prisão e 13 mandados de busca e apreensão nas cidades de São Paulo e Guarulhos (SP).
As apurações indicam que o grupo teria praticado cerca de 30 ocorrências somente no primeiro semestre deste ano, afetando dezenas de vítimas. A quadrilha atuava de forma organizada e fazia uso de recursos tecnológicos sofisticados para identificar e abordar as pessoas visadas.
O que é o golpe do falso advogado
O golpe do falso advogado consiste em combinar o acesso a dados de processos judiciais reais com técnicas de engenharia social para enganar as vítimas. Os criminosos se passam por advogados e contatam pessoas que de fato têm ações na Justiça, criando uma narrativa crível de que houve uma decisão favorável.
O diferencial desse esquema é justamente o uso de informações verdadeiras sobre os processos, o que torna a abordagem muito mais convincente do que fraudes comuns. As vítimas chegam a reconhecer detalhes reais de seus processos e acabam acreditando na legitimidade do contato.
A quadrilha desmantelada tinha acesso a dados sensíveis e usava essas informações para dar aparência de veracidade ao golpe.
Como funciona o golpe
Primeiro, os golpistas obtêm, de forma ilegal, dados de processos judiciais autênticos – informações que deveriam ser sigilosas ou de acesso restrito. Com esses dados, passam a contatar as vítimas apresentando-se como advogados.
Durante o contato, dizem que a pessoa venceu a ação e criam um clima de urgência. Solicita-se então a transferência imediata de valores elevados para supostas custas judiciais, honorários advocatícios ou outros pagamentos necessários para que a vítima receba o montante a que teria direito pela decisão favorável.
Por meio de técnicas de engenharia social, os criminosos convencem as vítimas da veracidade da suposta situação emergencial. Essa abordagem explora emoções como ansiedade, ganância e medo de perder uma oportunidade, além de manipulação psicológica.
As pessoas acabam realizando depósitos ou transferências antes de consultar seus verdadeiros advogados, verificar o andamento do processo em sites oficiais ou desconfiar da situação. Quando percebem a fraude, o dinheiro já foi movimentado e seu rastreamento torna-se extremamente difícil.
Como se proteger do golpe do falso advogado
Para se proteger contra esse tipo de golpe, siga algumas orientações básicas de segurança.
- Nunca transfira dinheiro imediatamente: Mesmo que o contato apresente dados reais sobre processos, não faça pagamentos após uma abordagem inesperada. Golpistas exploram o fator surpresa e a urgência para impedir decisões racionais;
- Confirme com seu advogado de verdade: Se alguém se identificar como advogado, anote as informações fornecidas, mas não tome providências imediatas. Entre em contato diretamente com seu advogado por meios que você já conhece – nunca use números ou contatos passados pela pessoa que o procurou;
- Verifique o processo nos portais oficiais: Todos os tribunais brasileiros têm sistemas de consulta processual online onde você pode acompanhar movimentações. Sentenças e comunicações oficiais aparecem nesses sistemas, e seu advogado constituído será notificado de forma formal;
- Desconfie de pedidos de pagamento urgentes: Processos judiciais seguem trâmites formais e dificilmente exigem pagamentos emergenciais. Custas e honorários costumam ser descontados dos valores a serem recebidos, não cobrados antecipadamente;
- Registre a tentativa de golpe: Se suspeitar de uma fraude, não confronte o golpista. Encerre o contato educadamente e faça um boletim de ocorrência. Guarde prints, gravações e qualquer evidência que possa auxiliar as autoridades;
- Proteja seus dados sensíveis: Nunca compartilhe códigos de verificação, senhas bancárias ou informações pessoais sensíveis por telefone, mesmo que o interlocutor pareça legítimo. Instituições sérias não pedem esse tipo de dado por canais inseguros.




