Diante da queda de 0,11% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), em agosto, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) afirma que essa redução representa uma deflação temporária. O cenário, segundo a instituição, indica um alívio momentâneo para os consumidores.
Apesar da deflação no índice, em comunicado a CNC ressaltou que o resultado não altera o panorama inflacionário, que continua pressionado pelos serviços. Em 12 meses, o índice acumulado foi de 5,13% – acima do limite superior de 4,5% estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional.
O economista-chefe da Análise Econômica, André Galhardo, esclarece que a deflação é passageira e causada principalmente pelo bônus de Itaipu. Esse crédito é um desconto anual concedido aos consumidores residenciais e rurais do Sistema Interligado Nacional (SIN) que consumiram menos de 350 kWh em pelo menos um mês do ano anterior.
Quanto à energia elétrica, o índice recuou 4,21% em função do bônus de Itaipu, que foi creditado nas faturas de agosto. “Portanto, de fato, essa deflação é pontual devido a esse fator”, explica Galhardo.
O especialista lembra que outros grupos de produtos monitorados pelo IBGE também apresentaram deflação de julho para agosto, como alimentos e bebidas. Galhardo destaca que deve ocorrer uma recomposição dos preços da energia em setembro.
“Mais uma deflação que pesa bastante no bolso do consumidor. Cinco dos nove grupos do IPCA tiveram deflação em agosto, então, de fato, foi uma deflação temporária, haverá reconstrução dos preços da energia em setembro, o que deve provocar uma forte variação inflacionária no mês, porém também pontual.”
Galhardo avalia ainda que, apesar da deflação pontual, a inflação continua desacelerando.
“De modo geral, o que isso demonstra é que, embora tenha havido uma deflação pontual e um aumento forte previsto para setembro, são eventos isolados. No geral, a inflação continua em desaceleração, caminhando para um cenário mais favorável tanto para consumidores quanto para empresas; os preços no Brasil, embora ainda estejam acima do teto da meta, passaram por um processo gradual e crescente de desaceleração nos últimos meses”, destaca.
Na análise da CNC, o contraste entre bens industriais e serviços revela a dificuldade no controle dos preços no país – com bens industriais apresentando desaceleração para 3,4% no acumulado em 12 meses e serviços subindo para 6,16%.
“Esse movimento está diretamente relacionado ao peso dos salários, que correspondem a dois terços dos custos do setor e refletem o fortalecimento do mercado de trabalho”, aponta o comunicado.
O especialista projeta uma provável continuidade na moderação dos preços no Brasil. “Esperamos uma variação cerca de 0,58% em setembro, o que é um número elevado para o mês, mas, de maneira geral, esperamos a continuidade do processo de moderação dos preços no país.”
Projeções
A CNC defende que o resultado de agosto reforça a importância da cautela. Além disso, a entidade projeta que a taxa Selic permanecerá em 15% ao ano até o fim de 2025 e que a trajetória da inflação dependerá, entre outros fatores, do desfecho das negociações comerciais entre Brasil e Estados Unidos sobre tarifas.
De acordo com a entidade, a previsão é de alta de 4,8% no IPCA para o acumulado do ano.
“Se as projeções de mercado estiverem corretas, teremos a menor variação anual média em um quadriênio desde o início do Plano Real – quadriênios que coincidem com mandatos presidenciais; será a menor desde a implantação do plano. Isso significa que está tudo bem, tudo correto? De jeito nenhum. A meta na implantação era 6, um parâmetro impraticável, é verdade, mas a meta hoje é 3, o teto é 4,5; estamos em 5,13 neste momento e devemos encerrar o ano com variação próxima a 5%”, avalia Galhardo.
“Portanto, fecharemos acima do teto da meta, mas isso se relaciona mais com a meta estar no lugar errado do que a um descontrole inflacionário ou problema mais grave”, completa.
Quanto aos próximos meses, o especialista comenta que o comportamento econômico deve se manter dentro da normalidade para a época do ano.
“O que teremos em outubro, novembro e dezembro, no último trimestre, é um padrão típico da inflação brasileira, acelerando levemente de um mês para outro, mas dentro das margens e desvios padrão observados em anos anteriores”, aponta.
Outros dados do IPCA
Por outro lado, setores como Educação (+0,75%) e Vestuário (+0,72%) apresentaram aumento no período. Já o setor de Transportes registrou queda de 0,27%, impulsionada pela redução nos preços das passagens aéreas e dos combustíveis. Além disso, a gasolina caiu 0,94% e acumula alta de apenas 1,18% em 12 meses.
O IPCA é calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) desde 1980 e mede a variação dos preços para famílias com renda entre 1 e 40 salários mínimos, independentemente da fonte. O índice abrange dez regiões metropolitanas do país, além dos municípios de Goiânia, Campo Grande, Rio Branco, São Luís, Aracaju e Brasília.
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