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Ozzy Osbourne se tornou um ícone e ‘tio irreverente’ devido aos seus excessos – 22/07/2025 – Ilustrada

Ozzy Osbourne foi ícone e 'tio doidão' graças a excessos - 22/07/2025 - Ilustrada

Retrato de Ozzy Osbourne, vocalista do Black Sabbath - Divulgação

Ozzy Osbourne, falecido aos 76 anos, foi um dos inventores do heavy metal. Não foi só ele, é claro. Junto com seus companheiros Tony Iommi, guitarrista, Bill Ward, baterista, e Terry “Geezer” Butler, baixista, formou a banda Black Sabbath e lançou, em 13 de fevereiro de 1970, um álbum homônimo que é considerado o marco zero do metal.

Outras bandas já faziam rock pesado antes – Led Zeppelin, Cream, Deep Purple – mas todas essas apresentavam uma influência muito forte do blues em suas sonoridades. Já os quatro jovens de Birmingham, embora apreciassem blues, criaram algo novo naquele primeiro disco – um som cortante, denso, atmosférico, com letras sobre demônios, espíritos malignos e feiticeiros.

O LP começava com barulho de chuva e um sino, enquanto Ozzy emitia um lamento sombrio. “O que é isso diante de mim?/ Uma figura de preto que me aponta/ Viro rapidamente e começo a correr/ Descubro que sou o escolhido!”

Em quartos escuros ao redor do mundo, adolescentes cabeludos, tímidos e antissociais encontraram seu ídolo, Ozzy.

Se existisse uma lista hipotética das bandas de rock mais influentes de todos os tempos, o Black Sabbath teria um lugar garantido. Eles fundaram o heavy metal e todos os seus desdobramentos, como stoner, grunge, doom, noise, drone, thrash metal, death metal, power metal e outros que ainda surgirão.

E pensar que tudo isso foi obra de quatro garotos pobres de classe trabalhadora que apenas queriam escapar do tédio e dos empregos nas fábricas cinzentas de Birmingham. O próprio John Michael Osbourne dizia que não tinha nenhuma perspectiva de vida antes do Sabbath. “Meu pai sempre disse que eu iria fazer algo importante algum dia”, afirmou na autobiografia “Eu Sou Ozzy”.

“‘Eu sinto isso, John Osbourne’, ele me dizia, após algumas cervejas. ‘Ou você fará algo muito especial ou acabará na cadeia’. E ele estava certo, meu velho pai. Fui parar na cadeia antes de completar 18 anos!”

Ozzy era disléxico, sofreu abuso sexual por parte de colegas da escola e tentou suicídio algumas vezes durante a juventude. Ele abandonou a escola ainda adolescente e foi trabalhar em fábricas e em um abatedouro. Tentou a vida de ladrão, mas nem para isso servia – foi preso depois de roubar uma loja de roupas. O pai, que trabalhava na General Electric, recusou-se a pagar a fiança para ensinar uma lição ao filho, que passou seis semanas na prisão.

O Black Sabbath foi a transformação na vida de Ozzy Osbourne. Com a banda, ele lançou oito álbuns em oito anos, incluindo clássicos do rock como “Paranoid”, de 1970, “Master of Reality”, de 1971, “Volume 4”, de 1972, e “Sabbath Bloody Sabbath”, de 1973, mas conseguiu a façanha de ser expulso do grupo devido a seu mau comportamento.

Em sua carreira solo, ele ajudou a definir a sonoridade mais limpa e acessível do metal nos anos 80, com álbuns como “Blizzard of Ozz”, de 1980, e “Diary of a Madman”, de 1981, e foi um dos pioneiros na fusão de metal com sintetizadores, em discos como “Bark at the Moon”, de 1983, e “No More Tears”, de 1991, criando um heavy metal pop e radiofônico.

Mais do que um artista influente, Ozzy Osbourne deixou seu nome na história como um dos grandes personagens do rock, um “porra louca” que mereceria a camisa dez em um time com craques como Keith Richards, Lemmy e Sid Vicious. As histórias são lendárias.

Ozzy sendo preso após urinar no Alamo, um famoso monumento texano. Ozzy, depois de cheirar todo o estoque de cocaína no ônibus durante uma turnê com o Mötley Crüe, ajoelha na calçada e cheira a única coisa que vê pela frente, uma fileira de formigas. Ozzy mordendo a cabeça de um morcego que um fã jogara no palco – “Achei que era de borracha!”.

Outras histórias foram trágicas. Ozzy perdeu o amigo e guitarrista Randy Rhoads em um acidente estúpido e irresponsável de avião monomotor ou quase estrangulou a esposa, Sharon, durante um surto alcoólico.

Apesar de todos os excessos, Ozzy Osbourne viveu para contar a história e se tornou um ícone pop, celebrado em programas de televisão como “The Osbournes”. Ele se tornou uma espécie de tio doidão do planeta Terra, uma figura adorada por suas idiossincrasias.

Na metade dos anos 1990, fiz uma entrevista com Ozzy em Los Angeles e perguntei se ele não tinha interesse em escrever uma autobiografia. “Não tenho condições”, disse, com sinceridade. “Tenho um buraco negro no meu cérebro, tomei tanta droga e fiz tanta merda entre 1970 e 1982 que não lembro de nada daquele período.” Anos depois, com a ajuda de um escritor fantasma, ele lançou a divertidíssima autobiografia “Eu Sou Ozzy”.

Naquela entrevista, Ozzy deu uma das respostas mais legais que já recebi de um artista. Perguntei por que, durante uma convenção de executivos da CBS na época do lançamento de um de seus primeiros discos solo, no início dos anos 1980, Ozzy deu uma mordida e arrancou a cabeça de um pombo.

“Porque os engravatados da gravadora não confiavam em mim”, respondeu Ozzy. “Mas eles passaram a confiar em você depois que você comeu a cabeça de um pombo?”, perguntei. “Não”, disse Ozzy. “Mas pelo menos ficaram com medo de mim e passaram a fazer o que eu sugeria.”

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