O programa Maria Vai à Escola celebrou 10 anos de atividades e, nesta terça-feira, 2, reuniu alunos, professores e autoridades para marcar uma década de atuação no enfrentamento à violência doméstica. A solenidade aconteceu no auditório da Escola Municipal Nara Ney e teve apresentações musicais, a exibição de um vídeo institucional e a entrega de certificados aos estudantes da Escola Municipal Laucides Oliveira — a primeira a receber o programa, em 2015.
A ação é fruto de uma parceria entre o Tribunal de Justiça de Roraima (TJ-RR) e a prefeitura, que em dez anos atingiu 5.446 estudantes do 5º ano em 34 escolas da rede municipal, firmando-se como referência nacional na promoção da cultura de paz, respeito e igualdade de gênero entre crianças de 10 e 11 anos.
Projeto transforma vidas e fortalece famílias
A juíza Suelen Alves, da Coordenadoria de Enfrentamento à Violência Doméstica do TJ-RR, destacou a relevância da cooperação institucional e os impactos alcançados pelo projeto ao longo da década.
“Nossa meta é transmitir às crianças conceitos de igualdade, cultura de paz, respeito à mulher e às relações familiares. Hoje entregamos certificados a cerca de 200 estudantes que participaram das aulas ministradas pelas nossas ‘Marias’, professoras disponibilizadas pela prefeitura para essa ação tão necessária”, afirmou.
A magistrada explicou que os conteúdos são trabalhados de forma adequada à idade, com cuidado para abordar o tema de forma leve. “Não começamos falando diretamente sobre violência. Iniciamos por temas transversais e só na última aula apresentamos a Lei Maria da Penha. Assim as crianças assimilam de maneira suave, porém efetiva, o que fazer e como agir. Elas retornam essa informação para suas casas, ampliando a rede de proteção. Após 10 anos, enxergamos perspectivas promissoras, inclusive com proposta na Câmara Municipal para tornar o projeto permanente”, relatou.
Papel da educação na prevenção à violência
O secretário adjunto de Educação, Isaac Neto, ressaltou a importância do projeto na formação social dos estudantes e na proteção das mulheres. “É um dia de celebração porque a educação transforma. Trabalhar temas como igualdade, respeito e convivência familiar saudável na pré-adolescência é essencial. Isso contribui para a formação de caráter, reforça valores e prepara uma sociedade mais justa e consciente”, disse.
Ele também destacou que os alunos atuam como multiplicadores do que aprendem. “A criança age como agente de mudança dentro do lar: observa, questiona, orienta e pode até intervir em situações inadequadas. Por isso o projeto é tão relevante e seguirá sendo fortalecido. A prefeitura agradece ao Tribunal de Justiça pela parceria. Esperamos continuar por mais 10, 20 anos transformando vidas e construindo uma sociedade melhor”, concluiu.
Alunos compartilham aprendizados
Alejandro Antônio, 11 anos, comentou que agora se sente mais confiante para identificar e agir em situações de violência doméstica. “Achei muito útil. Se presenciarmos qualquer tipo de violência doméstica, já sabemos o que fazer. O que mais me marcou foi aprender sobre os cinco tipos de violência. Sempre conversava com meus pais sobre o que aprendi e eles acharam a iniciativa muito importante”, contou.
Para Sophya Lima, 11 anos, a parte sobre a Lei Maria da Penha foi a mais impactante. “Aprendi bastante e entendi a importância da lei. Ela contribui para combater a violência doméstica e estimula a denúncia. Quando contei à minha mãe que estávamos estudando isso na escola, ela ficou surpresa e achou muito valioso”, relatou.
Como funciona o projeto?
Criado em 2015 por meio de um Termo de Cooperação Técnica entre o TJ-RR e a Prefeitura de Boa Vista, o projeto adota uma abordagem educativa e preventiva voltada a alunos do 5º ano, faixa considerada estratégica para trabalhar valores como empatia, respeito, cidadania e justiça social.
A proposta é organizada em seis aulas temáticas, com duração de uma hora cada, aplicadas duas vezes por semana. Os conteúdos abrangem:
Igualdade de gênero
Direitos humanos
Convivência familiar
Tipos de violência previstos na Lei Maria da Penha (física, psicológica, sexual, patrimonial e moral)
As atividades são conduzidas pelas professoras pedagógicas chamadas “Marias” e utilizam metodologias como círculos de diálogo, produção de cartazes, leitura de tirinhas, exibição de curtas, rodas de conversa e dinâmicas interativas. Ao longo dos anos, o projeto recebeu reconhecimento nacional, incluindo o Selo de Práticas Inovadoras do FBSP e a indicação como finalista no Prêmio Viva, da Revista Marie Claire.




